segunda-feira, 9 de agosto de 2010

TIRA-DÚVIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTOCOMUNITÁRIO


30/3/2010 – Qual a função e os limites do desenvolvimentocomunitário? O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) esclarece essas e outras perguntas frequentes sobre desenvolvimento comunitário e sua influência sobre uma localidade.

1) O que é desenvolvimento comunitário?

desenvolvimento comunitário é o fortalecimento dos potenciais social, econômico e ambiental de uma região, município ou localidade, cuja finalidade é ampliar a qualidade de vida para seus habitantes. Ele é gerado pelo esforço conjunto de pessoas e organizações que se sentem parte ou implicados com uma comunidade. Também resulta do sentimento de pertencer e do entendimento de que os objetivos individuais são inteiramente alcançados quando os todos atingem suas metas. Assim, os propósitos coletivos são alcançados.
O IDIS define desenvolvimento comunitário como um processo por meio do qual uma comunidade de um dado território torna-se protagonista de seu próprio desenvolvimento. Esse processo ocorre por meio dodesenvolvimento dos capitais humano e social, atendendo as seguintes premissas:

  • mobilização comunitária;

  • construção coletiva do conhecimento;

  • criação e manutenção de espaços de participação;

  • valorização dos talentos e recursos locais;

  • articulação intersetorial;

  • respeito ao tempo e às capacidades da comunidade.


2) Como evoluiu o conceito?

Os primeiros registros sobre iniciativas de desenvolvimento comunitário remontam à década de 1950. Desde então, o conceito sofreu influência das diferentes correntes ideológicas e visões de desenvolvimento. O modelo já foi focado em “soluções prontas” para os problemas ou as deficiências de uma comunidade. Então, passou para o reconhecimento da capacidade das pessoas e do potencial local. Hoje, considera o protagonismo da própria comunidade no seu processo dedesenvolvimento.
Em uma trajetória histórica, é possível perceber como o acúmulo de experiências e conhecimento propiciou o “empoderamento” do papel das comunidades no processo:

  • nas décadas de 50 e 60, a idéia era “fazer o desenvolvimento para o povo”;

  • nas de 60 e 70, “fazer o desenvolvimento pelo povo”;

  • nas de 70 e 80, “fazer o desenvolvimento por meio do povo”;

  • nas de 80 e 90, “fazer o desenvolvimento com o povo”;

  • e, a partir dos anos 90, promover a capacidade local para o autodesenvolvimento da comunidade, colocando seus integrantes como protagonistas do seu progresso.


3) Que atores devem ser envolvidos no desenvolvimentocomunitário?

Não há um padrão de atores a serem envolvidos. Isso pode variar segundo o processo que se pretende aplicar, a origem da iniciativa e a realidade local. Com base nas consultorias que prestou, o IDIS entende que a identificação dos principais atores para se estabelecer um processo de desenvolvimento ocorre com uma compreensão multidisciplinar da comunidade, bem como de suas dinâmicas socioculturais.
Cada caso é único e envolve diferentes grupos de pessoas e de organizações. Entretanto, há características constantes, como a colaboração intersetorial, isto é, a participação de lideranças e de organizações dos três setores da sociedade (Estado, empresariado e instituições da sociedade civil).


4) Qual a função do investimento social nesse contexto?

Se empregado de forma estratégica, o investimento social – corporativo, familiar ou comunitário – tem a capacidade de alavancar o aperfeiçoamento de comunidades. Ele deve atuar nos elementos críticos para disparar um ciclo virtuoso de desenvolvimento. Para tanto, deve estar aliado aos ativos existentes na comunidade, potencializando os resultados do trabalho e do apoio.


5) Qual deve ser o papel do empresariado?

Quando não está presente localmente e, mesmo assim, investe em projetos de desenvolvimento comunitário, a empresa exerce o papel de “produtora social” da comunidade, pois oferece as condições econômicas, institucionais, técnicas e profissionais para que o processo dedesenvolvimento ocorra. Neste caso, ela pode modular o grau de envolvimento com o projeto.
Já quando a companhia está presente no território – e, portanto, é parte da comunidade –, ela assume um papel de corresponsabilidade pelo processo de desenvolvimento comunitário. Além de “produtora social”, ela se torna participante e beneficiária dessa ação, pois investirá recursos e usufruirá diretamente do resultado do processo. Assim, se ela investe na educação e na qualificação da mão de obra local, aumenta a disponibilidade de profissionais que podem atender às suas necessidades de negócio e ajuda a fazer com que a prestação de serviços dos fornecedores seja mais eficiente.
Essa não é uma posição fácil de exercer, pois a empresa sofrerá pressões internas e externas para agir de forma assistencialista, como uma mera doadora de recursos, e estabelecendo uma perigosa relação de balcão com os atores locais. Mas a companhia não pode se isolar da comunidade, pois fica mais vulnerável – pela falta de comunicação contínua e coerente com esse stakeholder – e não forma vínculos de longo prazo. A saída é encontrar o equilíbrio entre os interesses, respeitando os limites do protagonismo local.


6) Quantos investidores sociais atuam com desenvolvimentocomunitário no Brasil?

De acordo com o Censo Gife, em 2006, 32% dos associados ao Grupo de Institutos e Fundações (GIFE) destinavam recursos para ações dedesenvolvimento comunitário. Em 2008, a nova edição desse levantamento apontou o crescimento de 16 pontos percentuais (totalizando 48%) no número de associados que aplicavam no setor.


7) Quais as vantagens de se investir em projetos e programas de desenvolvimento comunitário?

Entre os diferenciais para os investidores sociais estão:

  • política de engajamento: constituir parcerias estratégicas nas comunidades;

  • gerenciamento de relacionamentos: conhecer melhor costumes, cultura e necessidades locais;

  • “empoderamento” de pessoas, instituições e relações;

  • qualificação da relação com o poder público local;

  • facilidade em sustentar a comunicação, de forma contínua e diretiva;

  • desenvolvimento e fortalecimento da cidadania participativa, multiplicando as informações junto ao poder público e à sociedade civil;

  • ruptura da “relação de balcão” com as comunidades;

  • ser corresponsável pelo desenvolvimento da comunidade, junto com os atores locais.


7) Há algum padrão para planejar e executar as iniciativas?

desenvolvimento local pressupõe uma transformação consciente da realidade local. Isso implica na criação de uma visão de futuro não apenas para a geração presente, mas também para as gerações futuras.
Em suas consultorias, o IDIS sugere um processo de desenvolvimentocomunitário dividido nas seguintes etapas: 

  • compreensão multidisciplinar da comunidade;

  • identificação de dinâmicas socioculturais;

  • articulação de lideranças e de organizações dos três setores;

  • mobilização e potencialização de recursos e talentos existentes;

  • projeção de uma visão coletiva de futuro;

  • desenvolvimento de ações conjuntas em favor da comunidade;

  • aprimoramento de pessoas e fortalecimento das articulações sociais.


8) Como devem ser avaliados os resultados de um projeto dedesenvolvimento comunitário?

Além dos resultados planejados, que são facilmente mensuráveis, um bom indicador do trabalho é o sentimento de prosperidade da comunidade. Ao final de um ciclo, as pessoas se sentem mais coesas e a comunidade mais próspera. O resultado mais animador se dá quando a comunidade inicia um novo ciclo de desenvolvimento, de forma autônoma.

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