quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Oito passos para a criação de redes de desenvolvimento local - FIEP

Primeiro Passo - Instalação do Comitê (Local) de Articulação da Rede

O Comitê (Local) de Articulação da Rede será a Coordenação do Projeto na localidade escolhida.
Essa Coordenação deve contar com voluntários que moram ou trabalham na localidade escolhida. É importante que dela participem membros do governo local, da iniciativa privada e das organizações da sociedade.
O Comitê (Local) de Articulação da Rede (a Coordenação do Projeto) deverá contar, no mínimo, com três pessoas. O ideal é que consiga reunir umas 8 a 11 pessoas. Durante a implantação do projeto esse Comitê poderá ser ampliado de sorte a reunir umas 20 pessoas.
A Coordenação do Projeto deverá ser capacitada na presente metodologia de indução do desenvolvimento local.

Segundo Passo - Articulação da Rede (Local)

A Rede (Local) é a parte da Rede de Participação Política do Empresariado voltada – nas localidades escolhidas para a implantação do presente projeto – para a indução do desenvolvimento na sua localidade.
Essa Rede (Local) também pode ser chamada de Rede do Desenvolvimento Comunitário. Ela deve buscar conectar todos os participantes de programas de desenvolvimento, governamentais ou não-governamentais, que existam na localidade. Mas não deve se restringir a tais pessoas; pelo contrário: deve ser ampliada com todos aqueles que quiserem colaborar com o trabalho.
Atenção: trata-se de uma rede de pessoas, não de entidades, instituições ou organizações.
Deve-se buscar conectar um número mínimo de pessoas em cada localidade: este número corresponde a 1% das pessoas da localidade. Assim, se a localidade escolhida for um município de 40 mil habitantes, a rede deve contar com 400 participantes conectados; se for um bairro com cinco mil habitantes, a rede deve ter 50 participantes conectados, no mínimo. Não se conseguirá atingir essa meta de uma vez. A identificação e a conexão das lideranças de cada localidade é uma tarefa contínua. No entanto, não é necessário conectar todas as pessoas para começar a implantar o projeto.
Dentro desse número mínimo devem estar os inovadores. Isso exige um levantamento prévio de quem são as pessoas que devem ser procuradas.
Para começar a conectar as lideranças em cada localidade o Comitê (Local) de Articulação da Rede deve fazer um plano de trabalho que compreende:
1 – A identificação das lideranças governamentais, empresariais e da sociedade civil (considerando todo o universo de possíveis atores-parceiros: associações representativas; clubes de serviço; conselhos de políticas públicas; empresas; escolas e universidades; fóruns e agências de desenvolvimento; instituições religiosas; juízes e promotores; governo e parlamento, meios de comunicação; ONGs (OSCIPs e organizações da sociedade civil em geral), fundações, institutos, centros de estudo e pesquisa; sindicatos; e, sobretudo, cidadãos que se dedicam ao trabalho voluntário). É importante não esquecer que essas instituições devem ser listadas para que se possa ter acesso às pessoas que delas participam.
2 – Visitas pessoais a essas lideranças com a distribuição do folder do projeto e de outros materiais de divulgação.
3 – Convites para participar de atividades do projeto na localidade.
4 – A obtenção da adesão voluntária, porém formal, de cada liderança, à Rede de Participação Política do Empresariado (ou à Rede do Desenvolvimento Comunitário da localidade), com o preenchimento de um cadastro, com endereço completo para futuras visitas e para envio de correspondência e e-mails).
Articular a Rede (Local) não é só a primeira, senão a principal tarefa do Comitê (Local). Trata-se de um trabalho árduo de identificação das principais lideranças governamentais, empresariais e da sociedade civil em cada localidade e, depois, de sedução dessas lideranças para que venham a participar da Rede, a qual deverá ser continuamente animada e informada do andamento do processo, capacitada e chamada a participar das ações que serão realizadas. Se esse trabalho não for bem feito, os Comitês (Locais) correm o risco de ficar isoladas da população, perdendo a capacidade de disseminar o projeto e contagiar a população.
ORIENTAÇÕES PARA A ANIMAÇÃO DAS REDES (LOCAIS)
A rede é o meio, o ambiente - não produz efeitos por si mesma, independentemente dos estímulos que recebe. Seu papel é amplificar os estímulos e, em certo sentido, transformá-los ao recombiná-los em inúmeras variações, reverberando, pulsando, para estabelecer uma regulação emergente.
Sendo assim, é necessário animar a rede, provocá-la, abastecê-la com estímulos que ensejem a sua atuação regulatória, dando pretexto, aos seus nodos, para estabelecer novos caminhos, novas conexões, por onde trafegarão novas mensagens.
Isso significa que, se quisermos articular uma rede e induzir a sua expansão, temos que ter uma pauta de ações regulares de animação da rede. Essas ações - e isso é, sem dúvida, o mais importante - devem ser sistemáticas e repetitivas.
Além disso, é necessário fornecer "finalidades iniciais" (a expressão, conquanto aparentemente contraditória, quer dizer que as pessoas devem se mobilizar na rede em torno de um propósito declarado, que elas sejam capazes de entender, mas que não será, provavelmente, o resultado que obterão; ou seja, as "finalidades finais" serão construídas pela dinâmica da rede).
Para a Rede (Local) qualquer pauta de animação deverá traduzir, em indicações pedagógicas, as seguintes orientações derivadas do conhecimento que já se tem sobre a estrutura e a dinâmica das redes:
1 – Os membros do Comitê (Local) devem dizer abertamente que o Projeto Político de Desenvolvimento das Cidades do Paraná, naquela localidade, precisa de um número mínimo de voluntários conectados para acontecer, para poder funcionar. E que, quanto mais pessoas forem conectadas, mais sucesso a iniciativa terá, mais "forte" ela ficará. Esse número mínimo deve ser estabelecido em cada localidade, não podendo ser menor do que 1% da população da localidade.
2 - Os conectados devem receber regularmente uma mensagem do Comitê (Local). O importante é a regularidade, que não deve ser quebrada. Também é importante que essa mensagem, na forma de um boletim ou comunicado seja personalizado, dirigido sempre a uma pessoa, com nome e sobrenome - e, se possível, com o nome da pessoa que enviou. É desejável que esse boletim ou comunicado seja impresso (ou duplicado por copiadora) para que possa ser entregue de mão-em-mão, estimulando a conexão P2P. O boletim ou comunicado do Comitê (Local) conterá notícias sobre o que está acontecendo, os próximos eventos, os avanços na expansão da Rede (contagem contínua do tipo: "Já contamos hoje com 288 conectados à Rede de Participação Política de Maringá").
3 - O telefone (e o "torpedo" celular) deve ser usado sistematicamente para a comunicação na Rede. As pessoas conectadas devem receber ligações telefônicas dos membros do Comitê (Local), quando menos para bater-papo ou para perguntar como vai passando, o que está pensando sobre algum assunto, para convidar para uma festa, para um evento... Sim, é isso mesmo: conexão é relacionamento. Articular e animar a Rede é aumentar os relacionamentos entre as pessoas! Pelo menos um telefonema semanal é desejável: "Olá, como vai? Eu vou indo e você? Tudo bem?" Na rede estamos fazendo novos amigos, no sentido da "amizade política".
4 - Para os que têm acesso à Internet, um site ou blog da Rede (Local) será um ótimo instrumento, desde que seja atualizado regularmente (o ideal seria diariamente), com informações sobre o andamento do projeto, notícias e artigos.
5 - A conexão de novas pessoas à Rede é uma forma de animação da rede. Para tanto, deve ser reproduzido o formulário do Termo de Conexão (com uma explicação do que se trata no verso ou a chamada 'Carta de Princípios') em cada localidade, em grande quantidade. Cada membro já conectado à rede deve receber uma quantidade de folhetos do projeto, juntamente com formulários de conexão à rede. Sua tarefa inicial é conectar - pessoalmente - mais um número de pessoas (a ser definido pelo Comitê), entregando a cada uma o material e efetivando sua formalmente sua conexão.
6 – O Comitê (Local) deve ser ampliado com mais algumas pessoas (o ideal seria umas vinte pessoas) para dividir o trabalho de animação da rede na localidade e de implantação do projeto, promovendo encontros semanais e outros eventos, inclusive festivos.
7 - Deve-se promover uma capacitação sobre redes para os potenciais animadores (netweavers) que surgirem nas localidades.
ORIENTAÇÕES IMPORTANTES PARA NETWEAVING
1 - Ter sempre campanhas e metas | As campanhas podem ser propostas em torno de alguma ação coletiva que deverá ser realizada. Então, tendo o objetivo claro (a "finalidade inicial"), será possível conectar mais pessoas na rede para atingir tal objetivo. Deve-se estabelecer uma meta quantificável como, por exemplo, a de que precisamos chegar a 'N' conectados na rede em cada região para ter uma boa difusão da campanha.
2 - Ter sempre devolução ou retorno | Qualquer ação coletiva proposta à rede e realizada por ela deve ser registrada e a informação deve ser devolvida à rede. Esse deve ser um processo permanente, recorrente, sistemático.
O ideal é que os participantes conectados à rede recebam semanalmente alguma mensagem, como já foi dito acima. Os intervalos devem ser regulares e não deve haver falha nessa regularidade: (“água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”) é o lema aqui.
3 - Estimular sempre a conexão P2P | A rede deve ser usada para divulgar as informações. Cada conectado à rede deve ser um nodo e um elo de ligação, simultaneamente um centro de recebimento e de difusão.
Portanto, ao invés de distribuir massivamente um produto qualquer - um documento, uma cartilha, um jornal - é necessário estimular a replicação "por dentro" da rede. É necessário que as pessoas já conectadas à rede recebam vários exemplares de um material para distribuir para outras pessoas, da rede ou não (aproveitando a oportunidade para fazer novas conexões).
4 - A articulação da rede é permanente | A rede é uma estrutura móvel e não fixa. Isso quer dizer que, a cada instante, o mapa da rede, o seu "retrato", será diferente (o que se chamava de "instantâneo"). Muitas pessoas sairão (ou se afastarão, enfraquecendo sua conexão) enquanto que outras pessoas entrarão. Nada disso pode ser julgado como sucesso ou fracasso da articulação da rede.
A rede é assim mesmo: não é apenas uma estrutura no espaço, mas também uma arquitetura no tempo. O 'território' da rede é um campo (no sentido em que as ciências físicas empregam o termo, como campo eletromagnético, campo gravitacional), um espaço-tempo de fluxos. Portanto, o esforço de articular a rede não cessa jamais. Novas conexões deverão estar sendo feitas permanentemente, usando pretextos diversos e motivos os mais variados.
5 - A rede é surpreendente | Como disse Heráclito de Éfeso, que falava sobre fluxos: "Espere o inesperado ou você não o encontrará". Não adianta articular uma rede como uma forma instrumental de controle e condução das pessoas, para levá-las a cumprir uma tarefa que desejamos.
A rede não é uma forma de organização adequada para tal. Se for este o caso, é melhor organizar "células" ou "núcleos" sob nossa direção (mas neste caso se tratará, obviamente, de hierarquia e não de rede propriamente dita, quer dizer, de rede distribuída). Só deveremos articular redes se estivermos dispostos a ser surpreendidos com inovações, com a realização de coisas que não imaginamos e nem desejamos de antemão; com inovações que podem, inclusive, modificar as nossas intenções originais.
6 - A rede não é uma rede de pescar | A rede não pode ser usada com sucesso para “pegar peixinhos”, para recrutar pessoas para uma organização vertical, montada segundo um processo de cima para baixo.
A rede produz, sim, organização, gerando ordem espontaneamente a partir da cooperação. Se quisermos usar a rede instrumentalmente para recrutar militantes, poderemos até ter um aparente sucesso ao conseguir inchar uma organização urdida segundo padrões tradicionais, chamada, neste caso (impropriamente) de "rede", mas não conseguiremos constelar condições para que os fenômenos próprios da rede se precipitem.
Quem organiza militantes, conta apenas com aquele contingente que organizou, cuja força é necessariamente limitada; quem articula redes, pode vir a contar com forças insuspeitadas, com mudanças súbitas de comportamento.

Terceiro Passo - Seminário Visão de Futuro

A segunda tarefa do Comitê (Local) – que atua como Coordenação do Projeto – é realizar o Seminário Visão de Futuro. Esse seminário deverá ser feito em no mínimo 8 horas de trabalho em uma oficina especialmente dedicada ao assunto.
Nessa oficina, usando métodos participativos já largamente testados em iniciativas de desenvolvimento local, os participantes serão estimulados a sonhar um futuro desejado para a localidade tendo como horizonte estratégico o prazo de 10 anos.
É a partir desse seminário que será plantada a semente de uma comunidade de projeto em cada localidade. Uma vez elaborada participativamente uma visão de futuro coletiva pelo Comitê (Local) em cada localidade, esse sonho de futuro será compartilhado com a Rede do Desenvolvimento Comunitário respectiva para ser validado.
É aconselhável que esse trabalho seja feito pelo Comitê (Local) ampliado com a participação de mais pessoas já conectadas à rede (umas vinte pessoas é um bom número).
Em termos de planejamento o futuro vem antes do presente e a análise da situação presente é condicionada pela visão de futuro – filtramos a realidade a partir das nossas expectativas e, assim, pelo menos em parte, vemos o que queremos ver. Para realizar este terceiro passo, devemos usar atividades que estimulem trazer à tona os sonhos individuais e, depois, a construção coletiva do futuro, do sonho coletivo.
ORIENTAÇÕES PARA O SEMINÁRIO DE VISÃO DE FUTURO
Momento 1 – Peça que cada participante faça o seguinte exercício:
“Em 10 anos a sua localidade será o lugar mais desenvolvido do mundo, o melhor lugar do mundo para se viver. Descreva como ela será”.
Momento 2 – Divida os participantes em grupos de cinco pessoas e peça que cada grupo realize o seguinte exercício: 
“A localidade deste grupo de pessoas será o lugar mais desenvolvido do mundo, o melhor lugar do mundo para se viver daqui a 10 anos. Como ela será?”
Cada grupo constrói uma cidade que é uma síntese dos sonhos individuais. É importante não excluir sonhos. O resultado de cada grupo deve ser descrito de maneira que os demais grupos possam visualizar esse futuro. Pode-se usar um cartaz ou um painel para registrar as apresentações.
Momento 3 – Após a apresentação dos grupos, os participantes devem construir um único painel, retratando a síntese de todos os sonhos. Como fazer isso? Sugere-se construir um painel novo, que nunca será igual a uma simples colagem dos cartazes de cada grupo.
Momento 4 – Debate sobre os resultados alcançados. Algumas perguntas orientadoras que podem animar tal debate: por que é importante projetar o futuro? Como incluir todos os sonhos? Por que o sonho de viver bem se confunde muitas vezes com meros sonhos de consumo? Esse futuro projetado pode ser alcançado?
Momento 5 – Conclusão. A tarefa deste primeiro seminário estará concluída quando as pessoas puderem dizer o que acontecerá no futuro como se estivessem contando uma história. É a história do futuro.
A história que você conta é a vida que você constrói. À medida que mais e mais pessoas contarem e repetirem a mesma história ela começará a acontecer (Elizabeth Cogburn, em um programa de radio da WBAI de Nova Iorque, que foi ao ar no início de maio de 1995, disse assim: “A história que você conta a si mesmo é a vida que você constrói. Escolha sabiamente a sua história. À medida que você conta a história, ela começa a acontecer”).
O produto concreto desse trabalho é um texto contando a “história do futuro” da localidade. Esse texto deve caber em menos de uma página.
Depois disso, é necessário validar, na Rede do Desenvolvimento Comunitário, a Visão de Futuro que resultou do trabalho.

VALIDAÇÃO DA VISÃO DE FUTURO NA REDE
Os participantes do Seminário Visão de Futuro terão a tarefa de procurar – de preferência pessoalmente – os conectados à Rede do Desenvolvimento Comunitário, levando um formulário com os seguintes elementos:
Resumo da “história do futuro” em meia página.
1 – Você concorda com essa Visão de Futuro para a sua localidade?
( ) SIM
( ) NÃO
2 – O que você gostaria de acrescentar (em termos do você gostaria que a sua localidade tivesse ou fosse daqui a dez anos?).
O resultado dessas consultas devem ser tabulados e sistematizados. O Comitê (Local) fará então uma reunião para consolidar a visão validada pela rede.
NOVA VISÃO DO PASSADO
Com a Visão de Futuro validada o Comitê (Local) ampliado – com as mesmas pessoas que fizeram o Seminário Visão de Futuro – vai se reunir novamente para (re)rever o passado daquela localidade. Vai então tentar buscar, no passado, as sementes que, uma vez germinadas, poderão florescer como elementos constantes do futuro desejado.
Existe uma maneira bem prática de fazer isso, construindo uma linha do tempo, contendo o futuro e o passado e situando o hoje no passado. Trata-se de descobrir os fatores impulsionadores que poderiam ter sido dinamizados para produzir o futuro-antes da hora (como não foram, trata-se então de dinamizá-los a partir de agora). Isso pode ser, por exemplo, recuperar uma tradição que está fenecendo (um artesanato de raiz, por exemplo, que ficou restrito à memória de uma pessoa).
Ou pode ser recuperar os conhecimentos relativos a um empreendimento que já funcionou na localidade e que hoje não está mais em atividade. Em suma, o trabalho é escolher no passado tudo o que pode ajudar a alcançar o futuro almejado, construindo então uma nova linha do tempo.
A linha do tempo completa deverá ser apresentada à Rede de Desenvolvimento Comunitário.

Quarto Passo - Pesquisa Diagnóstico dos Ativos e Necessidades

A terceira tarefa do Comitê (Local) é realizar a Pesquisa Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades da sua localidade. A elaboração desse diagnóstico é uma tarefa prática, feita com trabalho de campo e muitas oficinas, lançando mão de metodologias participativas já consagradas.
O Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades será feito num prazo curto (não mais do que 30 dias) e em regime de trabalho concentrado. Novamente aqui, uma vez elaborado o diagnóstico pelo Comitê (Local) ampliado em cada localidade, ele será compartilhado com a Rede de Desenvolvimento Comunitário respectiva para ser validado.
Uma questão importante que deve ser levada em conta durante a realização da Pesquisa Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades, é a de que existem muitos tipos de diagnósticos. Existem diagnósticos técnicos, feitos por especialistas e existem diagnósticos participativos, feitos pelos participantes de um programa ou projeto. O Projeto Político de Desenvolvimento das Cidades do Paraná enfatiza a natureza participativa do diagnóstico local.
Mesmo assim, existem vários tipos de diagnósticos participativos, seja porque adotam metodologias diferentes, seja porque têm focos diferentes. Em geral os diagnósticos, tanto os técnicos quanto os participativos, preocupam-se apenas com potencialidades e viabilidades econômicas e com carecimentos e necessidades em diversas áreas. Assim, freqüentemente, deixam de levar em conta as potencialidades humanas e sociais presentes.
A metodologia adotada sugere organizar as informações em dois mapas: o Mapa dos Ativos (o que já temos – os recursos de toda ordem, as potencialidades que podem ser dinamizadas – para atingir o futuro desejado) e o Mapa das Necessidades (quais os problemas que devemos superar, os obstáculos que devemos contornar e os carecimentos que devemos satisfazer para percorrer o caminho em direção a tal futuro).
Além disso, prevê-se aproveitar o momento de realização do diagnóstico para calcular indicadores que permitam medir e acompanhar, com mais objetividade, a efetividade do processo de desenvolvimento que está sendo induzido.
O Seminário de Visão de Futuro é um passo preparatório para a elaboração do Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades e do Plano Participativo porque, via de regra, vemos o que queremos ver ou o que estamos predispostos a ver. Portanto, quando uma coletividade vai fazer um diagnóstico é importante que ela já tenha exercitado a sua capacidade de imaginar e desejar um futuro alternativo, para espanar aquela poeira da tradição que não lhe permitirá enxergar claramente o que está mais adiante.
Todavia, muitas vezes, o chamado diagnóstico não passa de uma soma de informações sobre a localidade levantadas junto a instituições governamentais e não-governamentais juntamente com um levantamento de potencialidades e vocações econômicas.
Além destes dados, são também levantados dados secundários em bancos de dados municipais no estado, no governo federal, universidades, projetos e programas que já foram realizados, etc. Tudo isso, por certo, é muito útil. Mas não é suficiente, pois algumas informações devem ser colhidas em campo.
Na metodologia adotada a elaboração do Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades será feita com base em um roteiro de questões objetivas – auxiliados por pesquisa complementar concomitante. 
FORMULÁRIOS PARA MAPA DOS ATIVOS E DAS NECESSIDADES
MAPA DOS ATIVOS
O número mínimo de questionários é igual ao número previsto para conectados à Rede na localidade escolhida.
1 - Existe alguma área de proteção ambiental na localidade? Qual (is)? Onde?
(Colocar o(s) nome(s), as características e o(s) endereço(s) da(s) área(s)).
2 - Existem terrenos ou prédios vazios ou abandonados?
(Nomes, características, propriedade e endereços).
3 - Onde é deposito o lixo da localidade? E o que é feito com ele depois?
4 - Quais as rádios comunitárias ou particulares ou governamentais/para-governamentais funcionam ou transmitem sinal na região? (Nome, endereço, nome, e-mail e endereço do responsável).
5 - Quais são os jornais, revistas ou boletins da localidade? (Nome da publicação, tipo, tiragem, nome, e-mail e endereço do responsável).
6 - Como se faz para anunciar algo importante e alcançar o maior número possível de pessoas na localidade (comunicação)?
7 - Quantas empresas existem na localidade? Qual o porte delas (grande, média, pequena e micro)?Quantas escolas públicas e/ou particulares existem na localidade? (Nome, endereço, nome, e-mail e endereço do responsável) Listar inicialmente as escolas que estão engajadas nos programas Escola Aberta e Abrindo Espaço e em outras iniciativas comunitárias.
9 - Existem faculdades e/ou universidades? Quais? (Nome, endereço, nome, e-mail e endereço do responsável).
10 - Quais agências bancárias atuam na localidade? (Nome, endereço, nome, e-mail e endereço do gerente).
11 - Existem reservas indígenas? Quais e onde?
12 - Quais são os postos de saúde ou hospitais que atendem a localidade? (Nome, endereço, nome e e-mail do responsável).
13 - Quais movimentos populares atuam na localidade (sem-terra, sem teto, ambiental, etc.)? (Nome, tipo, endereço, nome, e-mail e endereço do responsável).
14 - Quais são as ONGs que atuam na localidade (incluindo associações, clubes de mães, grupos ambientalistas etc.)? (Nome, tipo, endereço, nome, e-mail e endereço do responsável).
15 - Quem são os agentes comunitários de saúde (e outros agentes)? (Nome, endereço, telefone e e-mail).
16 - Quantos são os postos policiais, bombeiros, SAMU, que atuam na localidade? (Recolher dados secundários)
17 - Quais programas e projetos governamentais atuam na localidade (federais, estaduais, e municipais) com a participação da população? (Listar e descrever) (Nome, tipo, endereço nome, endereço e e-mail do responsável na localidade. Recolher dados secundários).
18 - Quais programas e projetos não governamentais atuam na localidade (federais, estaduais, e municipais) com a participação da população? (Listar e descrever) (Nome, tipo, endereço nome, endereço e e-mail do responsável na localidade).
19 - Quantas livrarias e bibliotecas existem na localidade? (Nome, endereço, nome, endereço e e-mail do responsável).
20 - Quantos telecentros existem na localidade? E cyber cafés ou lan-houses? (Nome, tipo, endereço, nome e e-mail do responsável).
21 - Existe alguma festa típica ou comemoração na localidade? Quais? (Nome, tipo, endereço onde se realiza, nome e e-mail de um responsável).
22 - Existe alguma tradição culinária específica da localidade? (Nome, tipo de culinária, endereço de um responsável).
23 - Quem são as principais personalidades da localidade (pessoas reconhecidas dentro e fora da localidade)? (Nome, endereço, e-mail).
24 - Quem são os conselheiros (de conselhos de políticas públicas) que moram (ou atuam) na localidade? (Nome, conselho a que pertence, endereço e e-mail).
25 - E os líderes espirituais? (Nome do líder, endereço, e-mail, nome do movimento espiritual, igreja, religião, seita ou similar).
26 - E os desportistas de renome municipal, estadual ou nacional? (Nome do desportista, endereço, e-mail, tipo de esporte).
27 - E os artistas e intelectuais de renome municipal, estadual ou nacional? (Nome do artista ou intelectual, endereço, e-mail, tipo de trabalho que realiza).
28 - Como é a infra-estrutura de serviços da localidade? Não valem dados secundários: recolher a opinião das pessoas entrevistadas.
Classificar segundo as notas abaixo:
5 = Ótimo; 4 = Bom; 3 = Regular; 2 = Insuficiente; 1 = Totalmente insatisfatório; 0 = Ausente.

Água

Energia elétrica

Limpeza Urbana
Esgotamento sanitário

Escoamento pluvial

Lazer

Saúde

Educação

Transporte coletivo

Pavimentação

Iluminação pública

Segurança pública

Moradia

Acessibilidade

Outros serviços


29 - Quais são os principais recursos naturais da localidade? Listar apenas os principais
30 – O que mobiliza a população da localidade (festa, comemoração, campeonato ou outro evento)? Listar os eventos, se possível registrando o nome, endereço e e-mail dos responsáveis.
31 - Quais as iniciativas de desenvolvimento local que existem na localidade? Listar apenas aquelas ações realizadas em parceria
32 - Qual o principal ativo da localidade?

MAPA DAS NECESSIDADES
1 - Quais são as gangues que atuam na localidade?
(Nome e características das gangues, crimes que cometem bairros onde atuam etc.).
2 - Quais os principais problemas com lixo, poluição e degradação ambiental?
3 - Quais os principais problemas de falta de infra-estrutura de serviços na localidade?
( ) Água
( ) Energia elétrica
( ) Limpeza Urbana
( ) Esgotamento sanitário
( ) Escoamento pluvial
( ) Lazer
( ) Saúde
( ) Educação
( ) Transporte coletivo
( ) Pavimentação
( ) Iluminação pública
( ) Segurança pública
( ) Moradia
( ) Acessibilidade
( ) Outros serviços
4 - Quais os casos notórios de corrupção e impunidade de autoridades ou representantes políticos e de “representantes” sociais na localidade?
Representantes políticos e seus prepostos
“Representantes” sociais
5 - Quais os casos notórios de discriminação política e perseguição política?
6 - Quais os casos notórios de incompetência do governo na localidade? Identificar e datar os casos apontados
7 - Como é o clima da participação política na localidade? (Competição exacerbada, clima adversarial, sectarismo, partidarização excessiva, representacionismo, assembleísmo, assistencialismo, clientelismo, centralização) Apreciação qualitativa (subjetiva do entrevistado).
8 - Como é o clima da convivência social na localidade? (Hostil, astral carregado, falta de humor, de simpatia e de gentileza, de delicadeza)? Apreciação qualitativa (subjetiva do entrevistado).
9 - Qual a taxa de rotatividade na direção das organizações representativas e nas organizações expressivas da sociedade civil da localidade? (Para fazer uma apreciação qualitativa o entrevistador deve verificar a rotatividade em dez organizações da sociedade civil da localidade, escolhidas ao acaso, em bairros diversos).
10 - Como são cuidadas pela população as construções, praças e espaços públicos na localidade? Apreciação qualitativa (subjetiva do entrevistado).
11 - Qual a principal necessidade da localidade?
12 - Quantos são os dependentes beneficiários na localidade (bolsa família, vales)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairro.
13 - Quantos são analfabetos na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairro.
14 - Quais as taxas de distorção idade-série (ou outro indicador de insucesso) repetência e evasão escolar no ensino fundamental? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
15 - Qual a relação ingresso no ensino médio/ingresso no ensino fundamental no mesmo ano? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
16 - Quantos são as crianças, os idosos, e as pessoas portadoras de necessidades especiais abandonados ou necessitando de cuidados? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
17 - Quais são os casos de pedofilia, violência e abuso contra crianças e jovens? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
18 - Quantos foram os casos de violência contra a mulher (no último ano)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
19 - Quantos foram os casos de trabalho infantil (no último ano)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
20 - Quantos foram os casos de violência doméstica (no último ano)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
21 - Quantos foram os casos de crime (e violência em geral) nesta localidade (no último ano)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
22 - Quantos foram os casos de gravidez precoce entre os jovens (no último ano)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
23 - Quantos passam fome ou estão em condição de desnutrição na localidade (no último ano)? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
24 - Quantos são os dependentes químicos e de álcool na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
25 - Quais são as principais doenças endêmicas e epidêmicas registradas? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
26 - Quantos são os casos de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e AIDS na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
27 - Quantos são os doentes mentais? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
28 - Quais os casos de discriminação por etnia, língua, nacionalidade, religião, ou opção sexual? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
29 - Quantos são os que se encontram em situação de desemprego, subemprego ou falta de ocupação? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
30 - Quem são os sem-teto na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
31 - Quem são os sem-terra na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
32 - Quantas são as vilas (favelas) na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
33 - Quantas são as construções precárias ou em terreno de risco na localidade? Recolher dados secundários, se possível, abrindo por bairros.
CONFECÇÃO DO MAPA DOS ATIVOS E DAS NECESSIDADES
Uma vez recolhidos, tabulados e sistematizados, os dados fornecidos pelos questionários acima serão consolidados em dois mapas, dando destaque para aqueles ativos que devem ser dinamizados e para aqueles carecimentos que devem ser satisfeitos (ou problemas e obstáculos que devem resolvidos ou superados) para que a localidade possa alcançar o futuro desejado.
É interessante encontrar uma forma gráfica simplificada para divulgar esses mapas, pois eles deverão ser apresentados aos participantes conectados à Rede do Desenvolvimento Comunitário para validação.
VALIDAÇÃO DO DIAGNÓSTICO NA REDE
Os participantes da Pesquisa Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades terão a tarefa de procurar – de preferência pessoalmente – os conectados à Rede do Desenvolvimento Comunitário, levando um formulário com os seguintes elementos:
Mapa dos Ativos e das Necessidades (dois cartazes com uma boa solução gráfica).
1 – Você concorda com esse Diagnóstico da sua localidade?
( ) SIM
( ) NÃO
2 – O que você gostaria de acrescentar (ativos que não foram percebidos ou necessidades que não foram detectadas)?
O resultado dessas consultas devem ser tabulados e sistematizados. O Comitê (Local) fará então uma reunião para consolidar o Diagnóstico validado pela rede.

Quinto Passo - Elaboração do Plano (horizonte de dez anos)

A quarta tarefa do Comitê (Local) é elaborar, com base no Diagnóstico mencionado no passo anterior, o Plano Participativo e estabelecer as Metas a serem atingidas ao longo do tempo.
Cada localidade escolherá o(s) seu(s) eixos prioritários de desenvolvimento e projetará as ações a serem desenvolvidas, dentro do horizonte temporal considerado (próximos dez anos), para atingir suas metas. Novamente aqui todo o produto final desse trabalho será submetido à Rede de Desenvolvimento Comunitário.
O Plano deverá ser elaborado pelo Comitê (Local) ampliado (de preferência pelos mesmos participantes do Seminário Visão de Futuro e da Pesquisa Diagnóstico dos Ativos e das Necessidades).
O Plano Participativo é elaborado na forma de um mapa do caminho para o futuro onde os marcos de referência são as realizações para superação dos obstáculos e para o aproveitamento das oportunidades, baseadas, fundamentalmente, na utilização dos próprios ativos (na capacidade interna de investir nesses ativos e na capacidade de atrair investimentos externos).
Na elaboração do Plano Participativo haverá a escolha da vocação (ou das vocações) da localidade. Uma vocação, como vimos no passo anterior, não brota objetivamente da análise da realidade, isto é, não pode ser revelada tecnicamente, a partir do Diagnóstico. Ela é fruto de escolhas subjetivas, quer dizer, de opções conscientes dos sujeitos por um determinado caminho.
Na verdade, a confirmação da vocação só deve ser feita depois do diagnóstico, no momento em que a comunidade estiver discutindo o Plano Participativo. Este Plano deve ser orientado pela vocação. Sem esse eixo orientador, ele não será um verdadeiro Plano, e sim um arquivo ou uma lista de projetos.
Vocações não são atividades possíveis, porém eixos em torno dos quais várias atividades econômicas, sociais, culturais, etc. podem se articular e se fortalecer mutuamente, aumentando as vantagens comparativas da localidade (ou melhor, suas características distintivas) e impulsionando o seu desenvolvimento.
Uma localidade pode elencar – e é desejável que o faça – vários projetos que gostaria de realizar. Mas o resultado da soma desses projetos não será um Plano Participativo, e sim uma listagem, em geral desconexa, de ações que até podem contribuir para o desenvolvimento da localidade, mas que não produzirão as sinergias necessárias para desencadear um processo integrado.
Um plano de trabalho para a elaboração do Plano Participativo deverá ser elaborado pelo Comitê (Local) em cada localidade, seguindo um roteiro de questões já formatado. Esse plano de trabalho deve compreender também a definição de metas a serem perseguidas pela localidade.
MATRIZ PLANO
Localidade:___________________________________        
Data: __/___ /____  
Eixo(s) Prioritário(s) de Desenvolvimento:
___________________________________________________________________            
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

AÇÃO
METAS
1.


2.


3.


4.


5.


VALIDAÇÃO DO PLANO NA REDE
Os participantes da elaboração do Plano terão a tarefa de procurar – de preferência pessoalmente – os conectados à Rede do Desenvolvimento Comunitário, levando um formulário com os seguintes elementos:
Resumo do Plano: eixo(s) prioritário(s) de desenvolvimento e matriz com ações e metas.
1 – Você concorda com esse Plano de Desenvolvimento para sua localidade?
( ) SIM
( ) NÃO

2 – O que você gostaria de acrescentar (novos eixos de desenvolvimento, novas ações)?
O resultado dessas consultas devem ser tabulados e sistematizados. O Comitê (Local) fará então uma reunião para consolidar o Plano validado pela rede.

Sexto Passo - Agenda Local (anual)

A quinta tarefa da Comitê (Local) ampliado é formular a sua Agenda Local. Trata-se de uma agenda de prioridades para o próximo ano. Essa agenda decorre do Plano Participativo mas incorpora também outras ações do poder público ou da sociedade local que estejam em curso ou previstas.
A elaboração do Plano participativo (com suas Metas) e a formulação da Agenda Local deverá ser realizada em pouco tempo por meio de um trabalho concentrado (menos de 30 dias). Como nos outros passos de implantação do projeto, todos esses produtos deverão ser validados pela Rede do Desenvolvimento Comunitário na localidade.
A implementação do Plano é uma das tarefas centrais do Comitê (Local) e da Rede daqui por diante. Para isso, é necessário identificar os passos iniciais. A Agenda Local é um instrumento que define as ações prioritárias para a negociação com agentes internos e externos e que permite que se realize um conjunto de ações, as quais, por sua vez, alavancarão outras ações para que o plano se viabilize.
Do programa de trabalho para a formulação da Agenda Local constarão: o desdobramento das ações do Plano, a escolha das ações prioritárias para iniciar o processo e a conexão dessas ações com as metas estabelecidas.
Tudo isso é feito com a ajuda de uma matriz de planejamento usual, como exemplificado na tabela abaixo.

Ação “X
Sub-ações/ tarefas
Metas
Prazo de realização
Prováveis Parceiros e Apoiadores
Responsável
Participantes Voluntários




















Ação “Y”
Sub-ações / tarefas
Metas
Prazo de realização
Prováveis Parceiros e Apoiadores
Responsável
Participantes Voluntários




















VALIDAÇÃO DA AGENDA NA REDE
Aqui não se trata apenas de validar a Agenda Local. É necessário obter o engajamento dos membros da Rede do Desenvolvimento Comunitário para a execução das prioridades escolhidas.
Assim, os participantes da formulação da Agenda Local terão a tarefa de procurar – de preferência pessoalmente – os conectados à Rede do Desenvolvimento Comunitário, levando um documento que contenha:
Lista de Prioridades da Agenda Local
1 – Você concorda com essa Agenda de prioridades para sua localidade?
( ) SIM
( ) NÃO
2 – O que você gostaria de acrescentar (novos prioridades)?
3 – Em qual (ou quais) dessas prioridades você gostaria de trabalhar?
O resultado dessas consultas devem ser tabulados e sistematizados. O Comitê (Local) fará então uma reunião para consolidar a Agenda validada pela rede e redigirá um docum

Sétimo Passo - Pacto Local em torno da Agenda

A sexta tarefa do Comitê (Local) é organizar a celebração do Pacto Local em torno da Agenda. Dessa celebração participarão todos os membros da Rede de Desenvolvimento Comunitário e todos os parceiros, governamentais, empresariais e da sociedade civil e das demais instituições de apoio e fomento que estiverem comprometidos com a realização da Agenda Local.
O Pacto Local também representa a formalização dos compromissos assumidos por todos os participantes na consecução das ações contidas na Agenda de prioridades.
O Pacto Local encerra o processo de implantação do projeto. Esse pacto deve ser preparado cuidadosamente e celebrado tendo como base a Agenda Local de prioridades. Trata-se de um pacto de cooperação intersetorial, do qual devem participar os representantes governamentais, empresariais e da sociedade civil existentes na localidade. Na verdade, deve participar do Pacto toda a Rede de Desenvolvimento Comunitário da localidade. E o evento deve ser aberto.
Mas não se trata apenas de uma reunião e sim de um processo de negociação com os vários atores-parceiros do projeto. Cada ator-parceiro, institucional ou individual, deverá assinar o Pacto Local, expresso na forma de um documento contendo a Agenda de prioridades com os nomes dos responsáveis pela realização de cada ação elencada e dos participantes voluntários que compõem cada equipe de trabalho constituída para executar uma prioridade da Agenda Local. Isso significa que antes da cerimônia de assinatura, deverá haver um entendimento sobre o documento que será ratificado.
Recomenda-se que haja realmente uma cerimônia formal de assinatura do Pacto e também uma atividade festiva posterior. Durante a cerimônia todos os participantes receberão uma cópia da Agenda Local.

Oitavo Passo - Realização da Agenda

Começando por um Projeto Demonstrativo
Andando com as próprias pernas deveria ser o nome deste último passo. Andar com as próprias pernas é uma expressão que resume, pelo menos em parte, o que queremos dizer com a palavra 'sustentabilidade'.
Antes que a comunidade possa andar com as próprias pernas, em geral é necessário realizar um (ou mais de um, dependendo das circunstâncias locais) Projeto Demonstrativo.
O Projeto Demonstrativo será a primeira prioridade - ou a 'Prioridade zero' - da Agenda Local e será realizado com uma participação mais forte do Comitê (Local) e dos responsáveis pelo projeto que assinaram o Pacto pela Democracia Local (envolvendo, portanto, o governo local, o empresariado e as principais organizações da sociedade local).
É possível tomar como Projeto Demonstrativo uma das prioridades da Agenda Local. Mas nem sempre isso é factível. O Projeto Demonstrativo deverá ser de interesse das instituições que estão apoiando o trabalho na localidade. Assim, a escolha do Projeto Demonstrativo deverá ser feita pelo Comitê (Local) em negociação com essas instituições.
Realizado o Projeto Demonstrativo (ou mesmo durante a sua execução) deve começar a realização das prioridades da Agenda Local, de acordo com as metas e os prazos estabelecidos, os parceiros e apoiadores pactuados. Para cada prioridade haverá um responsável e uma equipe de participantes voluntários.

SUGESTÕES DE PROJETOS DEMONSTRATIVOS INOVADORES
Vamos apresentar aqui algumas sugestões surgidas no trabalho concreto de comunidades em processo de desenvolvimento. São coisas factíveis, que podem ser realizadas por uma comunidade. Todas elas, entretanto, deverão ser reinventadas. Tal trabalho de reinvenção deve ser feito com a participação do maior número possível de pessoas da comunidade (no mínimo de toda a Rede de Desenvolvimento Comunitário).
É preciso considerar que desenvolvimento é sempre inovação. No caso do desenvolvimento local, a "fórmula" seria a seguinte: 'comunidade + rede e democracia + inovação = desenvolvimento'.
Inovação é, muitas vezes, algo surpreendente. Portanto, não devemos nos assustar com o que se verá nas próximas sessões, que contêm muitas provocações, estímulos ao pensamento e à prática que saem um pouco fora do que é considerado normal.
Comunidade de bem-estar social
Já se falou muito do Estado de Bem-estar Social, uma experiência que floresceu em alguns países do chamado Primeiro Mundo depois da Segunda Grande Guerra.
Atingidos por uma crise fiscal e por outras dimensões da crise do Estado-nação, muitos países, ricos inclusive, tiveram dificuldades de atingir ou manter o tal Estado de bem-estar. Nos anos 90, no Brasil e em outras nações, surgiu a idéia de trabalhar para uma "sociedade de bem-estar social" a ser construída, entre outras coisas, por meio de uma rede de proteção social.
A idéia é interessante, mas dificilmente poderá alavancar a quantidade de recursos suficiente para atender à crescente demanda das necessidades sociais somente a partir do protagonismo estatal. É necessário que dessa rede participem muitos outros atores, pertencentes a outras formas de agenciamento, como as empresas e as organizações da sociedade civil. Mesmo nesse caso, será ainda muito difícil fazer isso funcionar sem mobilizar os atores não estatais para participar e contribuir com o processo. As empresas, as organizações da sociedade e os indivíduos não se mobilizam para aportar recursos de uma maneira genérica, a não ser em certos momentos e para certos eventos (como campanhas, por exemplo). Não se pode imaginar um sistema estável baseado em uma ação com tais características, descontinuada, intermitente.
A única maneira viável de somar recursos do Estado, do mercado e da sociedade civil de modo mais permanente, com alguma perspectiva de sustentabilidade, é enfocando o âmbito sócio-territorial a que pertencem esses governos, essas empresas e essas organizações da sociedade civil; ou seja, no âmbito local. Assim, uma comunidade de projeto que se forme em função de um processo de desenvolvimento local tem de fato condições de montar um sistema de seguridade social no seu âmbito. Teríamos, neste caso, uma comunidade de bem-estar social.
Isso, por certo, não resolve o problema de um sistema de proteção social capaz de abranger todas as localidades de um país. O Estado continua com a responsabilidade de prover políticas públicas universais nas áreas de educação, de saúde, de segurança alimentar e nutricional etc. Isso pode, porém, ajudar a resolver o problema daquela comunidade que resolveu assumir essa responsabilidade.
O caminho aqui é realizar em um lugar. Pode parecer muito pouco. Mas é melhor, convenhamos, do que não realizar em lugar algum. Muita gente pode pensar que isso não é relevante porque um país tem milhares de localidades. Mas quem pensa assim não entendeu nada do desenvolvimento local, o qual se realiza sempre por meio desse caminho: sempre visando a um lugar.
Sim, o caminho para a transformação do todo passa pelo um. E não porque se trate de uma estratégia cumulativa, que vise cobrir o universo inteiro de um país (ou do mundo) a partir da ação em cada localidade. E sim porque, na medida em que existam conexões e caminhos entre as localidades, uma mudança de comportamento diante de um problema ou oportunidade realizada em uma localidade tem a capacidade de contagiar outras localidades. Desde que exista a possibilidade de conexão local-global, o local conectado é o mundo todo.
Até hoje as políticas públicas foram pensadas para o país, quer dizer, para o âmbito do Estado-nação. No máximo pensou-se em focalizar determinadas políticas em setores mais excluídos, visando corrigir ou compensar suas defasagens de inserção ou de inclusão. Pois bem, agora chegou a hora de começar a pensar nas localidades.
Uma comunidade de projeto pode e deve pensar no bem-estar de seus membros. Mas é preciso ver o que significa bem-estar do ponto de vista social. Não basta ter melhores condições ou melhor qualidade de vida do ponto de vista de cada indivíduo e da soma dos indivíduos. É preciso ter também melhores condições ou melhor qualidade de convivência social.
Nas duas próximas seções vamos apresentar sugestões sobre o que pode ser feito por uma comunidade para melhorar o seu bem-estar nas áreas da educação, da saúde, do cuidado com suas crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais.  
EXERCÍCIO 1
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador que materialize (ou contribua para a instalação de) uma 'comunidade de bem-estar social'.
Educação e saúde comunitárias
Educação e saúde são vistas, em geral, como direito do cidadão e dever do Estado. Já é um avanço reconhecer direitos de cidadania. No entanto, é pouco.
Para uma concepção mais ampliada de cidadania, não pode haver direito sem responsabilidade. Assim, educação e saúde devem ser também responsabilidade do cidadão, não para desresponsabilizar o Estado de seus deveres constitucionais e sim para acrescentar novos olhares e novas razões de sociedade, agregar novas competências e alavancar novos recursos. E, além disso, para inovar.
Em primeiro lugar é preciso ver que o que chamamos de educação é o resultado de uma interação social. Uma educação para o desenvolvimento é uma interação capaz de fazer emergir novas competências e habilidades, aumentando a capacidade de dinamizar potencialidades. A conformação de ambientes sociais favoráveis à ocorrência e à reprodução desse tipo de interação (educativa para o desenvolvimento) constitui, portanto, uma prioridade do ponto de vista da comunidade de bem-estar.
É sempre a sociedade que educa, para além de seus aparelhos educativos, como a escola. A vida social no campo ou na cidade, com seus ritmos, repetições e regularidades, vai transmitindo comportamentos.
Existe por certo a educação familiar que, agora, está reflorescendo e tentando, em parte, substituir inclusive a educação escolar. Nos USA, por exemplo, está havendo um certo boom de homeschooling (alunos recebendo aulas em casa, tendo como professores os próprios pais). "Mais de 850 mil crianças e adolescentes recebem aulas em casa. Isso representa 1,7% do total de alunos. No fim dos anos 80, esse número era de apenas 360 mil crianças. São estudantes que não vão à escola.
O homeschooling está crescendo a uma taxa de 11% ao ano. A tendência também se espalhou para a Inglaterra, onde 1% das crianças em idade escolar estudam em casa. O aprendizado é, de modo geral, de boa qualidade. Em 2000, os alunos que tiveram aula em casa conseguiram pontuação 10% mais alta que a média obtida pelos candidatos às universidades americanas.
O movimento de educação doméstica foi iniciado na década de 60 por hippies que defendiam um ensino livre do "sistema educacional conformista". Hoje o homeschooling é aceito por 75% das universidades e por todos os governos estaduais americanos. Na Inglaterra existe uma lei desde 1996 que permite essa forma de ensino" (cf. VEJA edição 1.829, 19 de novembro de 2003; p. 56).
Pois bem. Por que não communityschooling (educação comunitária)? Educação comunitária tem muitas vantagens sobre a educação doméstica. Sobretudo a educação comunitária para o desenvolvimento (ou a educação para o desenvolvimento comunitário) poderia e deveria ser assumida pela própria comunidade.
Paralelamente, a comunidade em processo de desenvolvimento deveria incluir o desenvolvimento comunitário como uma nova disciplina no currículo de suas escolas. Isso pode ser feito no âmbito municipal ou, mesmo, nas escolas situadas em um distrito, povoado ou bairro engajado no desenvolvimento local.
A educação comunitária, entretanto, vai muito além dessas medidas. Processos educativos escolares e, principalmente, não-escolares podem e devem ser ensaiados em localidades envolvidas com a estratégia de desenvolvimento local, com currículos sintonizados com o sonho de futuro elaborado coletivamente pelas comunidades.
Jogos, representações teatrais, gincanas, mutirões, campanhas, artes, agricultura ecossistêmica, artesanato, experimentações científicas e uma grande variedade de outras manifestações culturais e ofícios podem ser utilizados em formas não-escolares de educação comunitária: sem muros, sem portas e sem a figura autoritária do diretor ou diretora da escola.
É um milagre que existam tantas crianças na escola. A maior parte dos alunos a freqüenta resignada, porque é obrigada. A escola é chata. A escola é um "saco". A escola desliga o aluno (o paciente) da realidade viva e vibrante que está "lá fora" (e o fato de existir um "lá fora" já é um sintoma de uma coisa meio insustentável, quer dizer, de um arranjo mal feito, que não muda com a mudança das circunstâncias, que não dança conforme a música).
É claro que, nas circunstâncias atuais, considerando o quadro institucional e o padrão predominante das políticas públicas, precisamos da escola. Precisamos colocar todas as crianças na escola e ter escolas de qualidade, sem o que haverá mais exclusão em uma sociedade escolarizada. No entanto, isso não significa que não possamos, simultaneamente, inovar.
Assim, a comunidade em processo de desenvolvimento, mesmo que se esforce para colocar todas as crianças na escola e contribua para o aumento da qualidade da escola, não precisa ter nenhum compromisso com ideologias escolarizantes e pode trabalhar para a desescolarização da sociedade local, superando - por meio de experiências alternativas - a estrutura e a dinâmica desses centros reprodutores de costumes, normas de moralidade e crenças cujo objetivo geral é adaptar o ser humano a um tipo de sociedade em que não há muito espaço para a imaginação criadora e, conseqüentemente, para a inovação.
Na área da saúde, a primeira medida que pode ser adotada por uma comunidade em processo de desenvolvimento local é romper com a visão curativa, que aponta para a medicalização. Isso pode ser feito na medida em que se priorize a formação de agentes comunitários de saúde.
Saber cuidar da saúde é, antes de qualquer coisa, estimular hábitos saudáveis de vida e adotar práticas preventivas. Essa é uma tarefa que pode ser feita por pessoas da própria comunidade que se dediquem ao assunto, que gostem de fazer isso e que sejam capazes de estudar e de exercitar essa vocação.
Os médicos e demais agentes de saúde deveriam ser recompensados com base no número de pessoas que não ficam doentes e não pelo número de pessoas que ficam doentes e são por eles tratadas. Se recebem pelo número de doentes, acabam se transformando em agentes de doença e não de saúde.
Parece óbvio, mas os ideológos dos sistemas de saúde ainda não conseguiram montar um esquema viável que não viva da exploração da doença e da venda de serviços médico-hospitalares especializados e de remédios. Pois bem, tal esquema, difícil de ser implantado no plano nacional, é viável em âmbito local se a saúde for uma preocupação sempre presente nos processos de desenvolvimento comunitário.
Para tanto, médicos de família e agentes comunitários - e não hospitais - são o fundamental. Os doentes devem ser encaminhados para hospitais maiores e centros de referência, dependendo da gravidade do seu estado e quando for o caso.
Mas as estatísticas dos atendimentos ambulatoriais comprovam que a imensa maioria dos problemas podem ser resolvidos em casa ou em um posto de saúde. Grande parte desses problemas, ademais, podem ser resolvidos sem tratamentos caros, com o emprego de recursos fitoterápicos e terapias alternativas. E boa parte deles podem ser prevenidos.
A saúde comunitária, entretanto, vai muito além disso. Ela pode avançar a partir da compreensão de que a saúde e a doença são processos sociais. No que tange à prevenção isso é mais óbvio.
Mas, por incrível que pareça, a cura também. E ainda, por incrível que pareça, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, a saúde não é o contrário da doença. Saúde e doença, em termos coletivos, são variações no padrão de adaptação. Mas não é necessário que os ideólogos dos sistemas de saúde pública compreendam e aceitem isso para introduzir inovações no modo como uma comunidade trata da sua saúde.
EXERCÍCIO 2
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador que materialize (ou contribua para a instalação de) um novo sistema de 'educação comunitária'.

EXERCÍCIO 3
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador que materialize (ou contribua para a instalação de) um novo sistema de 'saúde comunitária'.
Incorporando as crianças e os idosos e integrando as pessoas com necessidades especiais
Ao contrário dos processos de desenvolvimento que, mitificando o papel da dimensão econômica, consideram apenas a chamada população economicamente ativa e os potenciais empreendedores empresariais, para estratégias de desenvolvimento local baseadas no investimento em capital social, as crianças, os idosos e as pessoas com necessidades especiais são muito importantes.
Em geral esses setores da população são considerados "peso morto" pelo olhar pouco humano e pouco social dos agentes obcecados com o crescimento econômico. São tidos como fontes de despesa por parte dos formuladores de políticas governamentais. E são desprezados pelos estrategistas econômicos, que não reconhecem neles nenhuma potencialidade, nenhuma fonte de ativos para o desenvolvimento.
No entanto, tais setores constituem elementos importantes da vida social, "vida" sem a qual não pode ocorrer o fenômeno que interpretamos como desenvolvimento.
As crianças são importantes não porque, como tanto se repete, são o futuro e devem ser sustentadas e preparadas para, algum dia, substituírem os adultos nos papéis decisivos que hoje representam.
As crianças não são projetos de adultos, nem são adultos em miniatura. As crianças não são importantes apenas do ponto de vista biológico, da sobrevivência da espécie. As crianças são importantes no presente, justamente porque são diferentes dos adultos no presente.
Sem elas não haveria isso que chamamos de sociedade humana, no presente. É preciso cuidar delas, mas, sobretudo, é preciso contar com elas, incorporar a sua espontaneidade, o seu entusiasmo, a sua forma de se emocionar, a sua capacidade de desconcertar, de quebrar a rigidez dos códigos de conduta que servem a objetivos (muitas vezes pueris, no sentido de imaturos) dos adultos quando praticam todo tipo de abusos contra os semelhantes e se deixam levar por tolas disputas para alcançar riqueza, fama, poder ou glória.
Sobretudo, é preciso assimilar a capacidade das crianças de viver a vida como um jogo.
Quem já fez alguma campanha eleitoral certamente teve a oportunidade de presenciar o incrível papel das crianças. Quando um candidato consegue estabelecer alguma empatia com as crianças, é meio caminho andado para a vitória.
Essa "sabedoria emocional" das crianças constitui um insumo importante para o desenvolvimento. Os processos de desenvolvimento local devem, portanto, incorporar as crianças, envolvê-las nas ações, sem cair na tentação de transformá-las em mão-de-obra.
Por exemplo, as crianças devem participar do exercício coletivo de visão de futuro e de visão de passado que é feito pela comunidade. Elas verão coisas que os adultos não vêem. E conseguirão ver os problemas de outras maneiras, que não são captadas pelas pessoas muito ocupadas e enquadradas.
As crianças podem ser incorporadas de muitas formas em dinâmicas verdadeiramente sociais. Não há receita. Mas, desde que se respeite e se leve em conta as crianças, elas assumirão os seus papéis.
Crianças não deveriam ser intoxicadas com ideologias particularistas, nem mesmo ideologias de desenvolvimento, não deveriam ser doutrinadas por reformadores do mundo e não deveriam receber aquele tipo de formação intensiva que tem como objetivo imprimir indelevelmente certos padrões de comportamento, ao estilo do que fizeram algumas ordens religiosas, como os jesuítas, ou como ainda fazem certas correntes islâmicas fundamentalistas.
Mas crianças educadas pela comunidade em processos democráticos participativos, participando livremente das redes de desenvolvimento comunitário, serão crianças diferentes no presente e adultos diferentes no futuro e isso pode, sim, contribuir e muito para alterar o modo de vida e de convivência social da comunidade onde crescerão.
Os idosos são a outra borda da rede social que começa com as crianças. Na verdade eles estão mais próximos das crianças do que os adultos, fechando o ciclo da vida humana.
Mais do que as crianças (que, pelo menos, são vistas como o futuro), os idosos são vistos como o passado e considerados um passivo do ponto de vista econômico e um fardo do ponto de vista social. Um peso a carregar pelos governos (inviabilizando os sistemas de previdência social) e uma fonte constante de preocupação para as famílias (que não sabem o que fazer com eles).
Tudo isso acontece porque não se vê que os idosos, considerados improdutivos em termos econômicos, podem ser, sim, muito produtivos do ponto de vista social. Quando uma pessoa deixa de ser produtiva do ponto de vista econômico, isso não significa que ela se torne improdutiva do ponto de vista social e sócio-produtivo, inclusive.
O ócio do idoso, remunerado pelos sistemas de aposentadoria atuais, não é, em geral, um ócio criativo. O idoso é desempoderado pela sociedade e não tem coragem para empreender, para inovar.
Se fosse considerado, pela sua experiência, pela sua sabedoria, pela sua paciência, pela sua tolerância, um ativo importante do desenvolvimento e um elemento insubstituível da vida social, o idoso deixaria de ser um problema e passaria a ser uma solução para muitos problemas.
Por exemplo, o idoso pode cuidar das crianças (e isso, em determinadas circunstâncias, pode ser um casamento perfeito). O idoso pode participar dos processos de educação comunitária, contando "causos", transferindo experiência e conhecimentos mesmo. O idoso pode ser guia turístico. O idoso pode ser conselheiro. E muitas outras coisas.
O idoso, na verdade, pode fazer quase tudo o que faz um adulto, milhares de atividades que não exigem plena vitalidade física. Se não o faz é porque, na maioria dos casos, é vítima de preconceito. Ou porque introjetou o preconceito e acha que seu tempo já passou, que não é mais capaz. Um idoso aposentado na frente da televisão é um passageiro na fila do ônibus que leva ao outro mundo.
As pessoas duram mais quando estão amando, quando estão desempenhando atividades socialmente reconhecidas, quando estão engajadas em um projeto, quando são animadas por um ideal, quando acham que seu tempo não se esgotou e que ainda têm uma missão a cumprir.
Idosos que compartilham os sonhos de futuro de uma comunidade de projeto são incorporados ao processo de desenvolvimento em pé de igualdade a todos os outros membros.
Para incorporar os idosos também não há receita. E, como no caso das crianças, desde que se respeite e se leve em conta os idosos, elas assumirão os seus papéis.
A rigor, todos nós somos pessoas com necessidades especiais, todos nós portamos diferenças - muitas vezes chamadas de deficiências. Isso depende do que imaginamos que deva ser o padrão de normalidade. As pessoas com necessidades especiais são, antes de qualquer coisa, uma manifestação da diversidade humana e social. Não devem ser objeto de visões ideológicas perversas, de eugenia, como as que vigoravam, por exemplo, em Esparta.
As pessoas com necessidades especiais devem, por certo, receber cuidados especiais. Esses cuidados podem e devem ser assumidos pela comunidade em processo de desenvolvimento.
Muitas vezes tais cuidados podem ter o seu efeito potencializado por meio da convivência com crianças e com idosos, seres livres do produtivismo e que não vão ficar olhando o relógio e pensando quanta coisa mais importante estão deixando de fazer quando, por algum motivo, têm que perder tempo visitando ou tratando de um "deficiente".
Sempre haverá alguma atividade que possa ser desempenhada - e reconhecida socialmente - por uma pessoa com necessidades especiais.
Mais do que isso: sempre haverá alguma atividade que poderá ser realizada de uma maneira melhor por uma pessoa julgada deficiente. Trata-se de encontrar a tarefa adequada, casar a necessidade com a possibilidade e a potencialidade, com a vocação, com aquele dom particular que todas as pessoas têm.
Mas para encontrar isso, as pessoas com necessidades especiais devem ser reconhecidas e a comunidade deve contar com elas na caminhada em direção ao seu futuro desejado.  
EXERCÍCIO 4
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador que materialize (ou contribua para) a inclusão de crianças e idosos no processo de desenvolvimento de uma comunidade.

EXERCÍCIO 5
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador que materialize (ou contribua para) a inclusão pessoas com necessidades especiais no processo de desenvolvimento de uma comunidade.
Uma pauta social
Do ponto de vista do desenvolvimento comunitário, existem alguns problemas no que, em geral, se chama de 'pauta social'.
O primeiro problema é o seguinte: o que comumente se denomina de pauta (ou agenda) social refere-se quase sempre a uma pauta de políticas sociais compensatórias e de assistência social. O problema é que isso está longe, muito longe, de configurar uma pauta social.
Uma pauta social deveria dizer respeito às múltiplas dimensões da vida em sociedade, englobando não apenas aqueles itens que são necessários para proporcionar boas condições de vida aos indivíduos, mas também aqueles itens responsáveis por boas condições de convivência social à coletividade.
Assim, deveriam fazer parte de uma pauta social os fatores que entram na composição do capital humano (e que se referem à capacidade de criar e recriar as condições para uma adequada existência individual - o que envolve a educação, a saúde, a alimentação e a nutrição, a cultura e a pesquisa, e várias outras áreas, sobretudo, o empreendedorismo) e do capital social (que se referem aos padrões de organização, de conexão em rede e de regulação democrática de uma sociedade, envolvendo os graus de associacionismo, confiança e cooperação atingidos por uma sociedade democrática organizada do ponto de vista cívico e cidadão e as suas relações com a boa governança e a prosperidade econômica).
O segundo problema é a maneira como, em geral, se quer enfrentar essa pauta "social" ou de assistência social. Em geral imagina-se que tal pauta "social" possa ser enfrentada por políticas compensatórias ou assistenciais ofertadas pelo Estado. Evidentemente, não se pode.
Os recursos necessários para fazer isso a partir dos orçamentos públicos não estão disponíveis aos governos da imensa maioria das nações na atualidade. E mesmo que estivessem, políticas baseadas em um padrão de oferta não dão conta de alavancar o desenvolvimento social se não estiverem combinadas com políticas de investimento em ativos humanos e sociais.
Os incluídos nas listas de beneficiários de programas estatais de oferta são excluídos pelo simples fato da sua inclusão nessas listas. Ao serem incluídos em tais listas (ou cadastros) passam a fazer parte do "estoque de pobres" assistidos compensatoriamente, estoque que é funcional para a manutenção de um sistema político que extrai sua legitimidade e suga sua energia vital dessas formas - em geral centralistas, assistencialistas e clientelistas - de relação entre Estado e sociedade.
A dependência desses programas é uma forma de não inclusão; ou melhor, enquanto continuarem dependentes desses programas - enquanto não forem encorajadas a caminhar com suas próprias pernas, enfrentando da sua maneira os seus problemas e aproveitando do seu jeito as oportunidades que lhes aparecem - as populações não estarão de fato incluídas no processo de desenvolvimento.
Assim, o terceiro problema é a idéia de inclusão (e de exclusão) apresentada, que, em geral, não se refere à inclusão em uma comunidade de projeto, nem mesmo ao acesso ao crédito e à propriedade produtiva, e sim ao consumo, aos serviços do Estado e às listas dos beneficiários dos seus programas de oferta, à cidadania (uma expressão cada vez mais vaga e que cada vez diz menos) e, enfim, aos recursos da vida civilizada moderna (via mercado).
Do ponto de vista do desenvolvimento local, entretanto, uma pauta mínima de assistência social pode e deve ser assumida pela própria comunidade. É muito importante que a comunidade celebre um pacto de cooperação pelo desenvolvimento no qual apareça com destaque o compromisso coletivo com itens como:
a) erradicação do analfabetismo jovem (14 a 24 anos);
b) redução do analfabetismo adulto;
c) cobertura vacinal total (até seis anos);
d) redução do insucesso escolar no ensino fundamental (redução da distorção idade/série em 80%);
e) erradicação do trabalho infantil (até 16 anos);
f) erradicação do trabalho escravo;
g) redução da mortalidade na infância por desnutrição ou má-nutrição (visando atingir índices próximos daqueles apresentados pelos chamados países desenvolvidos).
A tudo isso, deve-se acrescentar a famosa inclusão dos excluídos: dos miseráveis e dos pobres de maneira geral, mas também (para além das crianças, dos idosos e das pessoas com necessidades especiais) dos jovens, dos enfermos, das mulheres vítimas de violência (sobretudo doméstica) e das chamadas minorias sociais que sofrem algum tipo de discriminação ou preconceito em virtude de raça, credo, gênero, grau de instrução, nacionalidade, cultura, crença etc., dos índios, dos acampados e assentados, dos remanescentes de quilombos, dos alcoólatras e drogados etc.
Quando a comunidade assume a responsabilidade por uma pauta mínima como essa, isso é bem diferente de quando tudo vira dever do Estado, desresponsabilizando a comunidade.
Ao assumir tal responsabilidade a comunidade está incluindo no seu projeto de futuro os seus excluídos, que são excluídos, antes de qualquer coisa, porque, até então, não faziam parte de nenhum projeto que se importasse com eles. Quando passa a fazer parte do projeto de futuro da comunidade, esse excluído se torna incluído. Porque só comunidades humanas podem, realmente, incluir seres humanos.
Essa é uma idéia diferente de inclusão (e de exclusão). Inclusão é comunhão. Ninguém se torna incluído porque recebeu uma esmola, mesmo que essa esmola seja praticada por agentes públicos e com recursos públicos. Ninguém se torna incluído porque se tornou paciente de um programa de oferta para o qual não passa de um número em uma estatística. I
nclusão é conexão na rede do desenvolvimento comunitário, é se tornar mais um nodo, com nome e sobrenome, com características próprias distintivas, com habilidades e competências, com capacidade de receber e de emitir estímulos, de imitar e de ser imitado, de participar, enfim, de um processo de mudança da sua própria vida e da vida coletiva.
Como argumenta Humberto Maturana, "um conjunto humano que não incorpora a conservação da vida de seus membros como parte de sua definição operatória como sistema, não constitui um sistema social". Em outras palavras, um sistema social conserva a vida de seus membros e não existem membros supérfluos em um sistema social. Isso pode não valer para sociedades de massa de nossos Estados-nações atuais, mas, com certeza, deve valer para comunidades de projeto.
Compromissos comunitários em torno da conservação da vida de seus membros exprimem altos padrões de convivência, que em geral não podem ser alcançados por sociedades com baixo estoque de capital social. Portanto, estratégias de desenvolvimento baseadas no investimento em capital social devem estimular a construção de pautas sociais assumidas pela própria comunidade.
EXERCÍCIO 6
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador de inclusão social em uma comunidade de projeto.
Uma pauta ambiental
Uma pauta ambiental, em geral, diz respeito à conservação dinâmica do meio ambiente natural. Do ponto de vista do desenvolvimento, uma pauta ambiental não deve ser apenas uma pauta preservacionista, mas deve ser uma pauta de investimento no capital natural, ou seja, em tudo aquilo que diz respeito às condições ambientais e físico-territoriais herdadas, regeneradas ou (re) construídas. Uma pauta ambiental, todavia, deve ir além do ambiente natural para abranger também os ambientes modificados pelo ser humano.
Há sempre muito a ser feito em termos de uma pauta ambiental por uma comunidade em processo de desenvolvimento. Por exemplo: o cuidado com as águas (dos rios, lagoas, represas, alagados e costas marítimas) e a sua despoluição, quando for o caso; a proteção e conservação das nascentes; o tratamento adequado dos resíduos industriais e dos efluentes líquidos e sólidos; a coleta seletiva e o tratamento do lixo; a recuperação de áreas degradadas; o repovoamento vegetal e animal (incluindo a vida microscópica); a adoção de processos ecossistêmicos de cultura, como a permacultura; o plantio de espécies adequadas nas áreas urbanas; a limpeza e embelezamento da cidade, das suas fachadas, ruas e praças; a criação de parques municipais e reservas particulares de proteção natural etc.
Também pode fazer parte de uma pauta ambiental a construção de um portal onde funcionará uma recepção da comunidade a todos os seus visitantes, a construção de um centro de lazer que funcione como uma espécie de sala de estar da cidade, a construção de um shopping comunitário ou de uma feira pública coberta para produtores agrícolas, hortifrutigranjeiros, artesanais etc.
Esses ambientes, construídos em sintonia com o ambiente herdado, constituem expressões do cuidado que a comunidade tem com a conservação das condições que garantem a vida de seus habitantes atuais e das gerações futuras.
Na verdade uma pauta ambiental é sempre sócio-ambiental. O compromisso da comunidade com a chamada 'Agenda 21 Local' é fundamental e esse compromisso se materializa quando a localidade decide se engajar em um processo de desenvolvimento local integrado e sustentável.
Hoje já há a possibilidade de neutralizar as emissões de CO2 por meio do plantio de espécies vegetais endógenas que seqüestram carbono.
EXERCÍCIO 7
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador na área sócio-ambiental

Uma pauta política e cultural
Para estratégias de desenvolvimento local baseadas no investimento em capital social, essa é a pauta mais importante. Capital social é um conceito político. Para produzir e acumular capital social a comunidade tem que fazer política e tem que mudar a velha cultura política.
Como escreveu Michael Shuman (diretor da Village Foundation's Institute for Economics and Entrepreneurship), "o falecido Tip O'Neill costumava dizer que toda política é local. Talvez seja mais apropriado dizer que toda política significativa é local. A comunidade é o instrumento mais acessível para a expressão política coletiva, uma vez que é onde o cidadão tem maiores possibilidades de derrotar as forças da corrupção... e da apatia, e engajar-se em um processo democrático.
É também onde os indivíduos exercem maior influência sobre suas relações econômicas e políticas - onde mesmo pequenos gestos podem melhorar a qualidade da vida cotidiana. E o mais importante, é onde a formulação de políticas adquire uma face humana" (Shuman, Michael (2000). "Going Local: creating self-reliant communities in a global age". New York: Routledge, 2000).
Shuman sugere várias medidas políticas que podem ser implementadas por uma comunidade em processo de desenvolvimento que caminha em direção à sua auto-suficiência (ou autodependência), como a declaração de direitos e garantias da comunidade, o relatório do estado da cidade, a prefeitura amiga da comunidade, a reforma política, o lobby em favor do localismo e o interlocalismo (A íntegra dessas medidas sugeridas por Shuman pode ser encontrada, em português, no livro de Augusto de Franco, "A revolução do local: globalização, glocalização, localização". São Paulo / Brasília: Cultura / AED, 2003).
Um Pacto pela Democracia Local é, de longe, a coisa mais importante, em termos políticos, que uma comunidade em processo de desenvolvimento pode fazer. Todavia, várias outras iniciativas que incidem sobre o ambiente político-cultural local podem ser implementadas por quase todas as comunidades em processo de desenvolvimento, como o 'Calendário da Cidade' (que pode ser aprovado pela Câmara dos Vereadores), com a instituição de novas festividades (ou resgate/reanimação de antigas datas comemorativas), inclusive com o chamado 'Dia da Conexão', em que as lideranças comunitárias vão visitar uma localidade "irmã". Não é despropositado propor também uma 'Lei do Desenvolvimento Local', normatizando a maneira pela qual a comunidade se prepara para caminhar e caminha em direção ao futuro coletivamente desejado.
EXERCÍCIO 8
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador de inclusão política em uma comunidade de projeto.
Mil pautas inovadoras de desenvolvimento
São inumeráveis as possibilidades de ação de uma comunidade em processo de desenvolvimento. Algumas dessas ações precisam de dinheiro, de financiamento externo, outras não. Muitas atividades e empreendimentos podem ser realizados com base nos ativos humanos e sociais que toda localidade, em maior ou menor grau, já possui.
Em toda comunidade há uma mina de ouro, um tesouro enterrado que os economistas não costumam ver: "recursos humanos desempregados, instituições cívicas subutilizadas e ativos econômicos rejeitados. Em um maravilhoso livro intitulado 'Building Communities from the Inside Out', John P. Kretzmann e John L. McKnight (Evanston: 1993), da Rede de Inovações de Bairros da Universidade Northwestern, mostram, passo a passo, de que forma uma comunidade pode identificar, avaliar e aproveitar esses recursos.
Há muitos tipos de ativos humanos potencialmente úteis, mas ainda não aproveitados: a inventividade dos jovens; as habilidades esquecidas dos aposentados; as mentes ativas dos portadores de necessidades especiais; o instinto de sobrevivência das mães que vivem da assistência social e dos sem-teto; e os talentos inexplorados de artistas locais. Há associações subutilizadas que formam a sociedade civil, especialmente nas comunidades menores... instituições de atendimento ao público sem fins lucrativos como igrejas, hospitais e universidades públicas... [e há, ainda] ativos inanimados que foram descartados: prédios vazios, maquinaria ociosa, terrenos vazios, áreas industriais abandonadas, energia desperdiçada e água mal utilizada".
Uma comunidade em processo de desenvolvimento pode inventar mil pautas inovadoras de desenvolvimento. Poderíamos fazer uma lista, mas ela seria infindável. Dessa lista poderiam constar ações, programas e empreendimentos locais, como:
> Alternativas de construção civil utilizando materiais e know how locais
> Aproveitamento do lixo e dos rejeitos industriais para arte e artesanato, construção civil, fabricação de brinquedos e utensílios
> Arranjos ecológicos combinando culturas sinérgicas (por exemplo, bambu + cogumelo + minhoca no esquema "Emissão Zero" ou a chamada "Mandalla", uma combinação permacultural).
> Banco comunitário, programa de microcrédito ("banco do povo") e oferta de outros serviços microfinanceiros.
> Centros de recuperação de máquinas, equipamentos e veículos antigos.
> Centros de apoio à micro e pequena empresa
> Centros de voluntariado
> Circuitos gastronômicos
> Combinados urbano-rurais
> Consórcios comunitários (para aquisição de eletrodomésticos, máquinas e equipamentos industriais, veículos etc.).
> Consórcios habitacionais comunitários
> Cooperativas de produção, de crédito e de serviços.
> Disseminação do bambu e montagem de uma bambuzeria
> Empresas de participação comunitária (captando a poupança local)
> Empresas em rede (com os conectados trabalhando em suas próprias casas)
> Hortas comunitárias e escolares
> Jornal comunitário
> Moeda comunitária
> Mutirões de construção de habitações populares
> Parques comunitários
> Plano de previdência comunitária
> Plano de saúde comunitário
> Programa de artesanato (estimulando a recuperação da tradição artesanal local)
> Programas inovadores locais de capacitação profissional de jovens, de alfabetização de jovens e adultos, de alfabetização digital e de alfabetização ecológica.
> Rádio e TV comunitária
> Redes de sócio-economia solidária
> Redes jovens de telecentros
> Shopping comunitário
> Sistemas sócio-produtivos locais (como os chamados APLs - Arranjos Produtivos Locais)
> Spas e centros de saúde alternativos
> Telecentros comunitários
E muitas, muitas outras coisas. Nada disso, porém, é essencial para uma estratégia de desenvolvimento local baseada no investimento em capital social, como veremos na próxima e última seção.
EXERCÍCIO 9
Sugira um Projeto Demonstrativo inovador que materialize, simultaneamente, três das sugestões acima.
Liberdade para desenvolver
O que é essencial em uma estratégia de desenvolvimento local baseada no investimento em capital social?
Para resumir em um parágrafo, o essencial é devolver às pessoas a capacidade de sonhar e de correr atrás dos próprios sonhos e fortalecer a sua capacidade de comunidade, quer dizer, de compartilhar seus sonhos e de cooperar na busca de objetivos comuns, exercendo seu protagonismo para alavancar seus próprios recursos na solução de problemas locais, conectando-se horizontalmente em rede, democratizando decisões e procedimentos e inaugurando novos processos participativos de caráter público.
Favorecer o empreendedorismo individual e coletivo, a cooperação, as redes e a democracia.
Para tanto, a coisa mais importante é a liberdade. Sim, ao contrário do que pensam muitos técnicos de instituições, governamentais ou não governamentais, nacionais ou internacionais, de fomento e de apoio ao desenvolvimento, desenvolvimento tem tudo a ver com liberdade.
Desenvolvimento implica sempre uma ampliação da esfera da liberdade humana. Pode haver crescimento econômico sem mais-liberdade, mas não pode haver desenvolvimento.
Assim como há um potencial humano que precisa de liberdade individual para ser desenvolvido, também há um potencial social que precisa de liberdade coletiva para ser desenvolvido.
Em cada localidade, há uma força coletiva interior que está aprisionada. É preciso libertar essa força coletiva interior.
Então, as perguntas que temos que fazer são as seguintes:
1) O que é preciso fazer para libertar essa energia endógena que está aprisionada?
2) Quem a está aprisionando?
3) Como quebrar as cadeias que a estão aprisionando?
Se respondermos a essas perguntas vamos descobrir por que uma comunidade não se desenvolve e o que fazer para contribuir com o seu desenvolvimento.
Por que uma comunidade não se desenvolve?
Existe um exercício simples que pode ser feito por qualquer conjunto de lideranças ocupadas com o desenvolvimento de uma localidade. Trata-se de um exercício para elaborar a "fórmula para impedir que uma comunidade se desenvolva". Propõe-se às pessoas que elaborem uma fórmula contendo os fatores que, reunidos de uma certa maneira, conseguiriam, a seu ver, bloquear o desenvolvimento comunitário.
Toda vez que tal exercício foi feito com agentes de desenvolvimento, as "fórmulas" encontradas continham um ou vários dos seguintes fatores:
> As pessoas repetem o que sempre fizeram <=> porque existe algo desmobilizando a sua criatividade e a inovação, em geral uma cultura que não as encoraja a fazer nada diferente do que já foi feito e, pelo contrário, infunde o medo de que empreender é muito arriscado e pode trazer prejuízos.
> As pessoas permanecem na condição de beneficiárias passivas <=> porque foram transformadas em pacientes de programas assistenciais que já vêm prontos, desestimulando o enfrentamento coletivo dos problemas comuns.
> As pessoas ficam esperando recursos que vêm de fora <=> porque tais recursos são sempre conseguidos pela intermediação (clientelista) de algum benfeitor em troca de certo tipo de apoio (em geral eleitoral), substituindo a cooperação que alavanca recursos da própria comunidade pela competição por esses recursos de fora (para ver quem os conseguirá e quem deles se aproveitará).
> As pessoas desconfiam umas das outras, não acreditam na capacidade das outras de fazer alguma coisa que beneficie a coletividade <=> porque sua cooperação é desestimulada por chefes (centralizadores), que dizem que só eles têm poder para resolver os problemas (se tiverem apoio, em geral eleitoral).
> As pessoas e as organizações se relacionam verticalmente, em uma escala de subordinação, preocupadas o tempo todo com sua posição de poder e com sua capacidade de mandar <=> porque ficam à mercê da vontade de algum político poderoso para o qual não interessa a troca de informações e a articulação em rede da população para fazer qualquer coisa autonomamente.
> As pessoas não participam das decisões sobre os assuntos comuns e nem são chamadas a colaborar para a realização de ações que dizem respeito aos destinos da comunidade <=> porque alguém (algum tipo de organização social ou política antidemocrática) não conta com elas e as exclui da esfera pública.
Libertar a comunidade dos efeitos dessa cultura política - apassivadora, competitiva, hierárquica e autocrática - que é contrária ao empreendedorismo individual e coletivo, à prática da cooperação e à sua ampliação social, às redes e à democracia participativa, é a "fórmula" do desenvolvimento porque é a "fórmula" para libertar o potencial social que está aprisionado. Ou, em outras palavras, para produzir e reproduzir, em escala ampliada, o capital social.
Não se pode fazer isso eliminando os agentes que reproduzem essa cultura ao adotarem práticas políticas assistencialistas, clientelistas, centralizadoras hierárquicas e antidemocráticas, que impedem a comunidade de se desenvolver. Os agentes políticos tradicionais florescem e reflorescem nesse tipo de cultura. Se conseguirmos bloquear a ação de alguns deles, surgirão outros tantos.
A única maneira de coibir as práticas políticas insufladas por tal cultura é adotando práticas contrárias, ou seja, insuflando o empreendedorismo individual e coletivo, a cooperação, as redes e a democracia participativa. Uma estratégia de indução do desenvolvimento local, deve, portanto, lançar mão de uma metodologia que estimule essas práticas libertárias.
Atingindo a 'escala social'
Entretanto, parece muito difícil estimular práticas libertárias quando os agentes disponíveis para fazer tal trabalho estão, eles próprios, possuídos por mitos e intoxicados por preconceitos de uma cultura que aprisiona ao invés de libertar. Além disso, uma metodologia baseada em uma colagem de ações destinadas a estimular a disseminação de novos comportamentos empreendedores, cooperativos e democráticos seria bastante complicada de aplicar se não tivesse um eixo, um centro, um fulcro, um ponto sobre o qual apoiar a alavanca para conseguir dar conta de mover todo o resto.
Pois bem. Este fulcro existe. É a rede. Do ponto de vista social, a rede é o início e o fim de tudo em termos de desenvolvimento. Porque a comunidade se desenvolvendo é sinônimo de sua rede social aprendendo.
A forma e o comportamento culturais manifestam-se como propriedades que emergem da dinâmica complexa das redes sociais.
Quanto mais tramada por dentro (por redes sociais) for uma localidade e quanto mais conectada para fora ela estiver, maior será o seu 'poder' de gerar (novos) padrões replicáveis de comportamento.
Quanto mais tramada por dentro (por redes sociais) for uma localidade, menor ela será em termos sociais (quer dizer, em termos da sua 'escala social'). Quanto menor o mundo (no sentido de mais tramado por redes sociais ou da existência de mais caminhos entre seus nodos), mais potente socialmente ele será (e mais capacidade terá de produzir e reproduzir em escala ampliada o capital social).
Portanto, o centro de tudo, de toda a estratégia de desenvolvimento local baseada no investimento em capital social, é tornar o mundo pequeno em termos sociais. Aumentar a conectividade dentro da localidade até atingir a 'escala social' ótima para a comunidade que vive e convive ali.
Aliás, o que chamamos de comunidades são 'mundos pequenos' que atingiram certo grau de "tramatura" do seu tecido social. A ampliação social da cooperação, que dá origem ao (ou co-origina o) fator do desenvolvimento designado pelo conceito de capital social (e que é o conteúdo do que chamamos de 'poder social'), ocorre (ou exclusivamente, ou predominantemente) em comunidades.
É o sistema como um todo (a rede social) que confere 'poder social' aos seus componentes (humanos). Todo 'poder social' é empoderamento humano. Se queremos que as pessoas sejam encorajadas para empreender, para exercitar um protagonismo cooperativo na busca de soluções para os seus problemas, temos que aumentar a "tramatura" do seu tecido social; ou seja, temos que construir redes sociais.
Quanto mais conectada (por dentro e para fora) estiver uma comunidade, mais condições ela terá de usinar novos padrões de comportamento (como novos programas). Chamamos de desenvolvimento ao grau de desenvolvimento desses programas (que dá a medida da sua capacidade de induzir comportamentos em virtude do seu 'poder social' de gerar e replicar seus próprios padrões).
Quanto menor (e, portanto, mais potente socialmente) é um mundo, mais chances terão de se propagar mudanças de comportamento ensaiadas por seus componentes (ou seja, mais susceptível ele será à mudança social e, portanto, ao fenômeno que chamamos de desenvolvimento).
(O texto reproduzido acima, com algumas modificações contém excertos do livro de Augusto de Franco "O lugar mais desenvolvimento do mundo: investindo no capital social para promover o desenvolvimento comunitário". Brasília: AED, 2004).









Nenhum comentário:

Postar um comentário