quinta-feira, 22 de julho de 2010

PARTICIPÂMETRO: UMA METODOLOGIA PARA PROMOÇÃO DO DIÁLOGO

“O diálogo é mais uma participação, na qual não jogamos uns contra os outros, mas com cada um deles.”
David Bohm



O que é o Participâmetro?

É uma metodologia fácil, inclusiva, didática, criativa e divertida que foi desenvolvida com a finalidade de promover o diálogo. O Participâmetro tem como objetivo educar e promover a participação equilibrada das pessoas num círculo de diálogo.


Como ele funciona?

Como um jogo participativo, onde os integrantes do grupo – que podem estar numa sala de aula, numa reunião de condomínio, numa audiência pública, numa reunião de trabalho, num papo entre amigos, etc - utilizam o participum, a unidade de medida imaginária do Participâmetro.



Funciona deste jeito: No início do diálogo – ou mesmo no meio dele – você distribui imaginariamente 10 participapara cada pessoa do grupo e pede para que durante o encontro ela utilize o maior número de unidades que puder. Quanto maior for a participação de cada um, maior será a utilização dos seus participa.

Você deve informar aos participantes duas coisas:
 Que somente no final do diálogo será revelado o valor de cada participum e quantos participa cada pessoa terá utilizado.
 Que o Participâmetro vai medir a participação verbal de cada um.

Comentário: Estas duas informações são muito importantes porque, em relação à primeira, um participante mais curioso logo fará perguntas tipo “Eu não estou entendendo este jogo, como vou saber quantos participa estarei utilizando ao abrir a boca?”. Isso o acalmará. Em relação à segunda, é para informar que não adianta o participante ficar calado o tempo todo e dizer no final que não participou verbalmente mas que participou muito, sim, porque prestou muita atenção... É claro que o silêncio é precioso e fundamental – e que talvez seja a essência de um compartilhar muito mais profundo – mas informe que ele não será objeto de estudo daquele dia. Peça ao participante para verbalizar o que estiver pensando durante o encontro.


Como saber quantos participa cada pessoa utilizou?

1º passo: No final do encontro, você pedirá ao grupo para eleger a pessoa (pode ser mais que uma) que mais participou do diálogo.  O facilitador informará, então, que a pessoa que utilizou os seus 10 participa foi exatamente aquela que o grupo acabou de eleger.

Ao ser eleita como tal, esta pessoa se tornará a referência de participação para os demais. O facilitador anotará num papel ou num quadro o nome da pessoa eleita seguido do número 10.

2º passo: Comparando-se com a pessoa eleita, cada membro do grupo dirá quantos participa ela imagina ter utilizado durante o diálogo. Como isto será feito de uma forma aberta, o facilitador e os demais participantes poderão, por consenso, alterar para mais ou para a menos as notas dadas por cada um.

Comentário: Um dia um aluno avaliou que havia utilizado 9 participa na aula de um dia inteiro que estávamos ministrando. Todos começaram a rir, pois ele tinha aberto a boca somente duas ou três vezes durante as 8h de aula. Poucas – mas relevantes – participações poderiam resultar numa grande utilização de participa, mas este não era o caso daquele aluno. Por consenso, a participação dele foi rebaixada para 3. O contrário também ocorre.

O facilitador deverá anotar no papel ou no quadro o nome de cada participante e o total de participa utilizado.

3º passo: O grupo deverá somar a quantidade total de participa utilizados por cada um e depois dividir o número encontrado pelo número de participantes. O resultado final ficará entre 0 e 10.

Uma pontuação alta poderá indicar um grupo com participação mais equilibrada entre as pessoas. Naquele encontro provavelmente terá sido observada uma participação harmônica e cuidadosa dos seus membros, com pouca ou nenhuma sobreposição aos demais e a preocupação de todos com o falar, com o ouvir e a com a inclusão dos participantes.





Ao contrário, uma pontuação baixa poderá significar um grupo com participação desarmônica, indicando uma tendência de polarização, discussão e imposição de pontos de vistas, com sobreposição de um ou poucos sobre os demais, grande desequilíbrio entre a fala e a escuta e pouca ou nenhuma preocupação com a inclusão dos demais.


Quem ganha o jogo?

De acordo com Bohm (2005, p. 34-35), num diálogo “ninguém tenta vencer. Se alguém ganha, todos ganham. Há um espírito diferente. Não há tentativas de ganhar pontos ou de fazer prevalecer visões de mundos individuais. Em lugar disso, sempre que um erro é descoberto por alguém, todo mundo ganha. É uma situação ‘ganha-ganha’ [...]. O diálogo é mais uma participação, na qual não jogamos uns contra os outros, mas com cada um deles. No diálogo, todos vencem”.

No Participâmetro não existe a figura da pessoa ganhadora ou perdedora, mas sim a do grupo com participação equilibrada ou não. Sua meta final é conscientizar as pessoas da importância da sua participação no diálogo. Como é um jogo educativo, pode-se colocar como desafio a melhoria da pontuação final do grupo no próximo encontro.

Comentário: Uma boa dica é pedir aos participantes mais entusiasmados que ajudem os participantes mais tímidos a participarem. E pedir aos mais quietinhos que não deixem escapar a oportunidade preciosa de poder se expressarem. Isto pode ser feito reservadamente ao final da primeira rodada do Paticipâmetro. Pode-se perguntar também aos mais quetinhos a origem do sílêncio: "Diga-me, o que eu poderia melhorar para que você participasse mais?".


Em que momento eu utilizo o Participâmetro?

Sempre que você sentir, num diálogo, a necessidade de educar e promover uma participação mais equilibrada dos seus membros. Por exemplo:
Quando você está num grupo onde uma ou poucas pessoas participam;
Quando uma ou poucas pessoas monopolizam o tempo de fala, prejudicando a participação dos demais;
Quando uma ou mais pessoas, por timidez ou falta de espaço para participação, pouco contribuem para a efetiva troca de idéias.
Comentário: O Participâmetro é uma ótima opção para educar sutilmente uma pessoa que fala muito e sobressai-se aos demais pelas freqüentes intervenções no grupo, muitas vezes sem necessidade. Um dia estávamos ministrando uma aula participativa de três dias numa empresa e a seguinte situação se apresentava ao final do primeiro dia: o gerente falava o tempo todo e os subordinados, acuados, ficavam calados na maior parte do tempo. Era uma situação constrangedora e desafiadora para nós. Como conscientizaríamos aquele gerente da ausência de diálogo no grupo, sem parecer um puxão de orelhas? Utilizamos o Participâmetro no término do primeiro dia e o número final ficou muito, muito baixo. Colocamos como meta aumentar a média do grupo a cada dia, o que acabou acontecendo com sucesso.


Considerações finais

O Participâmetro foi desenvolvido no ano de 2006 como uma metodologia livre para uso, reprodução e alteração. Assim como o talking piece(1), a sua função no grupo é educar e... desaparecer! Ser utilizado somente quando necessário!

Ele tem limitações: não é indicado para mensuração da linguagem não-verbal e talvez não seja a metodologia mais recomendável para utilização em grandes grupos.

Compartilhe conosco as suas experiências e inovações na utilização do Participâmetro pelo e-mailcid.alledi@uol.com.br ou pelos telefones (21) 2671-3116 ou (21) 9433-3636.

Bons diálogos!

Cid Alledi Filho*
cid.alledi@uol.com.br
www.nucleoetico.com.br
Nov. 2006.
Última revisão: Dez. 2007.


(1) Um talking piece é um modo de facilitar um diálogo sem interrupções, que permite uma participação mais igualitária e encoraja uma escuta profunda. Um talking piece pode ser uma pena, uma pedra ou outro objeto que tenha um significado especial para os participantes, sendo passado de pessoa para pessoa num círculo. Quem estiver segurando o talking piece será a única pessoa do grupo convidada a falar. Os demais participantes do círculo serão solicitados a escutar. (BOSTON RESEARCH CENTER, disponível em:www.brc21.org/resources/res_circle.html, acesso em: 05 Set. 07).



Para saber mais sobre o diálogo

ALVES, Rubem. Escutatório. Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/escutatorio.htm. Acesso em: 17 Ago. 07.

______. Tênis x Frescobol. Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/tenisfrescobol.htm. Acesso em: 11 Ago. 07.

______. A Arte de Ouvir. Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/aartedeouvir.htm. Acesso em: 17 Ago. 07.

ART OF HOSTING.  Methods Meets Practise. Disponível em: http://www.artofhosting.org/thepractice/methods/. Acesso em: 20 Mai. 07.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TERAPIA COMUNITÁRIA. Terapia Comunitária. Disponível em:http://www.abratecom.org.br/terapiacomunitaria.asp. Acesso em: 01 Ago. 07.

ASSOCIAÇÃO WARÃ. Warã. Disponível em: http://wara.nativeweb.org/wara.html. Acesso em: 28 Jul. 07.

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MARIOTTI, Humberto. O Automatismo Concordo-Discordo e as  Armadilhas do Reducionismo. Fev. 2000. Disponível em: http://www.geocities.com/pluriversu/concdisc.html. Acesso em: 11 Ago. 07.

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*Cid Alledi Filho é professor de disciplinas ligadas à promoção do diálogo, ética nos negócios, transparência, responsabilidade social e sustentabilidade no LATEC/UFF, UNICAMP, UniEthos e Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, dentre outras organizações.

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