quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dráuzio Varella e a Fitoterapia no Brasil


MATÉRIA QUE SAIU NA REVISTA  ÉPOCA:

ÉPOCA – O Ministério da Saúde elegeu oito plantas às quais se
atribui alguma atividade e passou a distribuí-las no SUS. São elas:
alcachofra, aroeira, cáscara sagrada, garra do diabo, guaco,
isoflavona da soja e unha de gato. Isso é ruim?

Drauzio – Que tipo de medicina o governo cria com uma medida como
essa? Ele institui duas medicinas: a do rico e a do pobre. As
pessoas que têm acesso ao atendimento de saúde vão a médicos e
compram remédios em farmácia. O que o governo fez foi criar uma
medicina para pobres baseada em plantas que não têm atividade
demonstrada cientificamente. Quando dizem que determinada planta tem
atividade isso significa que em tubo de ensaio ela demonstrou ter
determinada ação. Mas isso não basta. Para ter ação comprovada em
seres humanos, falta muita coisa...

Vocês podem consultar a íntegra da entrevista pelo endereço:

http://revistaepoca.globo.com/EditoraGlobo2/Materia/exibir.ssp?materiaId=162899&secaoId=15230

VEJAM AGORA UM POSICIONAMENTO COM RELAÇÃO À REPORTAGEM:
Dráuzio Varella e a Fitoterapia no Brasil

Prof. Douglas Carrara - Sou antropólogo e pesquisador de medicina
popular e fitoterapia há vários anos no Brasil. Imaginem a surpresa
e a indignação ao ler a matéria na revista Época de Agosto/2010
sobre a prática da fitoterapia no serviço público no Brasil. No
entanto é necessário agradecer ao Dr. Dráuzio Varella pela
iniciativa. Agora temos um representante da indústria farmacêutica
com quem dialogar. Sinal dos tempos! A fitoterapia e o projeto
Farmácias Vivas já começam a incomodar e a causar prejuízos à
indústria farmacêutica ...

Analisando os países mais avançados do mundo e que utilizam em
grande escala os medicamentos produzidos pela indústria
farmacêutica, verificamos que os resultados obtidos pela medicina
considerada científica são pífios. Os Estados Unidos possuem os
índices de câncer de mama e de próstata mais elevados do mundo. Em
1993 haviam nos EUA, 8 milhões de diabéticos, uma das mais altas do
mundo. Com relação às doenças cardio-vasculares também os americanos
são campeões.  Nesse país onde se utiliza a "medicina de rico", no
entender esclarecido do Dr. Dráuzio Varella, os pacientes são
tratados com medicamentos de última geração e equipamentos modernos
de alto custo. Investe-se muito em medicina e quase nada em saúde da
população.

Por outro lado, nos países onde se pratica a "medicina de pobre",
para citar novamente o ilustre médico Dr. Dráuzio Varella, os
índices de doenças degenerativas, tais como, cânceres, doenças
cardio-vasculares, diabetes, são baixíssimos. Nos EUA, ocorrem 120
casos de câncer de mama por 100.000 habitantes, enquanto na China
apenas 20. Inclusive as imigrantes  chinesas que vivem nos Estados
Unidos, acabam atingindo os índices absurdos e epidêmicos da
população americana. Em São Francisco, a cada ano surgem 160 casos
de câncer de mama por 100.000 habitantes que migraram da cidade de
Xangai, na China, enquanto, na mesma faixa etária, as que
permaneceram, apenas 40 casos surgiram da mesma doença.

Portanto a medicina avançada dos países do primeiro mundo não
colabora em nada para promover a saúde de seus habitantes. Por que
então importarmos a mesma medicina que não se preocupa com a
promoção da saúde e que parece considerar a doença um negócio melhor
do que a saúde?

O que diferencia as populações dos países asiáticos é a prática de
terapêuticas de origem milenar: fitoterapia, acupuntura, shiatsu,
assim como os medicamentos alopáticos, sempre que necessário.

Portanto, Dr. Dráuzio Varella, que modelo de medicina devemos
escolher e utilizar no tratamento das doenças da população
brasileira de baixa renda? O modelo americano ou o asiático? Como
confiamos na sua boa formação matemática e que as estatísticas
epidemiológicas não são mentirosas, o melhor caminho para o Brasil
forçosamente terá que ser o modelo asiático.

Mesmo sabendo que todos os profissionais da saúde, pesquisadores,
fitoquímicos, fitofarmacologistas, etnobotânicos, farmacêuticos,
fitoterapeutas e antropólogos da saúde são ignorantes, segundo a
douta opinião do Dr. Dráuzio Varella, acreditamos que um dia vamos
conseguir atingir os índices baixos de morbidade obtidos atualmente
pelos países asiáticos.

Para melhorar o nível de nossos profissionais, pesquisadores da área
de plantas medicinais, basta que o próprio governo aumente as verbas
para pesquisa com plantas medicinais, que há séculos vem sendo
utilizadas sem nenhum apoio do governo no tratamento de seus
problemas de saúde pela população pobre, sem recursos, que conta
apenas com a experiência de seus ancestrais para tratar de suas
doenças. Esta é a realidade da nossa população humilde de interior,
cujos serviços de saúde, todos sabemos, são precários e péssimos.

Imagine o Dr. Dráuzio Varella, se a população simples do interior
não possuísse nenhum conhecimento da ação das plantas medicinais. Se
toda vez que alguém adoecesse tivesse que procurar o serviço de
saúde de seu município. Imagine o caos que seria. Em primeiro lugar,
porque a maioria dos médicos está concentrada nas capitais dos
estados. Em segundo lugar, porque na medida em que nos afastamos dos
grandes centros, os recursos na área da saúde diminuem. E por isso
faltam medicamentos, faltam leitos de hospital, faltam médicos e
enfermeiros. Ainda assim os poucos profissionais que existem no
interior foram mal formados na faculdade. As faculdades atualmente
se preocupam em formar médicos especialistas em  monitoramento de
UTI's.

Enfim são formados para exercer a "medicina de rico". São
pouquíssimos os médicos clínicos disponíveis capacitados para
receitar fitoterápicos, mesmo porque não se estuda fitoterapia nas
faculdades de medicina no Brasil! E muito menos dispomos de
faculdade de fitoterapia, tais como, as que existem na Inglaterra,
na França, na Índia, na China.

Não estranhamos, portanto que o Dr. Dráuzio Varella, tenha
encontrado muita ignorância nos projetos de Farmácias Vivas
estabelecidos em diversas regiões do país. Há, na verdade, uma
carência muito grande pesquisas na área de plantas medicinais no
Brasil. Por outro lado, a ignorância encontrada pelo ilustre médico
não é decorrente do descaso ou por falta de amor pelo paciente. Além
de não ter recebido nenhuma informação, e, muito menos formação, na
faculdade onde estudou, o médico que atua nos atendimentos
fitoterápicos não dispõe de nenhum apoio logístico. Para praticar a
fitoterapia as informações são escassas e mesmo as pesquisas que a
Universidade brasileira promove, que o Dr. Drázio Varella, se
referiu com tanto desprezo, dificilmente chegam ao seu conhecimento.

Portanto tudo o que o douto Dráuzio Varella considera idiotices são
deficiências que ocorrem em um país que até hoje escolheu o modelo
da "medicina rica" que promove a doença e não investe na saúde da
população. Ao acusar um médico que receita fitoterápicos de idiota,
porque não conhece farmacologia, teria que acusar também os demais
médicos brasileiros que também não conhecem, porque todos sabemos
que a farmacologia moderna é uma caixa preta, cujo conhecimento é de
domínio exclusivo dos grandes laboratórios. Para o médico chega
apenas a bula dos medicamentos...

Mas agora sabemos que o único cidadão brasileiro que não é idiota e
que sabe farmacologia em profundidade é o Dr. Dráuzio Varella,
porque provavelmente recebeu informações confidenciais dos grandes
laboratórios e pode falar com conhecimento de causa. Como percebeu a
deficiência na formação dos médicos que entrevistou, vai agora
colaborar e esclarecer e orientar os idiotas, profissionais de
saúde, que atuam nos projetos de Farmácias Vivas, idealizado pelo
provavelmente também idiota, Dr. Francisco José de Abreu Matos,
farmacêutico químico e professor da Universidade Federal do Ceará,
infelizmente falecido em 2008. Se estivesse vivo com certeza
explicaria as dificuldades para desenvolver e implantar o projeto de
Farmácias Vivas no Ceará, com uma experiência profissional de 50
anos.

Sabemos que, segundo o Aurélio, idiota é um indivíduo pouco
inteligente, estúpido, ignorante, imbecil e em alguns casos, até
mesmo, uma categoria psiquiátrica, a idiotia. Portanto não
consideramos correto e muito menos ético, considerar idiotas
inúmeros profissionais da área da saúde, que atuam nos projetos de
Farmácias Vivas no Brasil. As deficiências por ventura encontradas
pelo ilustre médico deveriam, com certeza, ser avaliadas, mas
evidentemente com o respeito que qualquer indivíduo merece,
independente de sua formação intelectual.

Quanto à experimentação dos fitoterápicos, a que o Dr. Drázio
Varella se referiu, gostaríamos de questionar porque inúmeros
medicamentos alopáticos são proibidos e retirados do mercado, após
causar inúmeros danos aos pacientes. Por acaso a talidomida que
gerou inúmeras crianças defeituosas no mundo inteiro foi submetida a
experimentação científica antes de ser colocada á venda no mercado?
Quantos aditivos e demais produtos químicos são colocados no
mercado, expondo seres humanos e seres vivos aos seus efeitos
cancerígenos que somente são percebidos depois que contaminaram todo
o planeta. Basta lembrar dos PCB's, os bifenilos policlorados, óleo
conhecido no Brasil como ascarel, que quando foram produzidos em
1929 não se sabia nada de seus efeitos altamente nocivos para os
seres vivos e para o meio ambiente.

Sua fabricação foi proibida em 1976, mas os efeitos maléficos
cumulativos e persistentes que atingiram toda a cadeia alimentar do
planeta, não. A contaminação continua até os dias de hoje e,
provavelmente o ilustre médico Dr. Dráuzio Varella também deve estar
contaminado com PCB's, o que explicaria sua atitude pouco ou nada
cortês com demais indivíduos de sua espécie. Este é apenas um
trágico exemplo, mas existem mais de 800 aditivos químicos ainda não
estudados utilizados na fabricação de alimentos. São proibidos
apenas quando, após experiências com animais, se descobre que são
cancerígenos. Nesse caso, as cobaias não foram os pobres
camondongos, foram os seres humanos que, sem  serem consultados,
foram submetidos à experimentação.

Também consideramos necessário experimentar previamente as plantas
medicinais. Os ensaios toxicológicos são evidentemente necessários,
inclusive para estabelecer uma posologia adequada para um possível
atendimento fitoterápico. Por outro lado, a etnobotãnica e a
antropologia da saúde fornecem uma contribuição muito importante
para a ciência ao estudar o conhecimento de raizeiros e pajés
indígenas que conhecem os efeitos de cada planta a partir da
experiência  recebida de seus ancestrais e da utilização da planta
por si mesmo.

Podemos dispor desse modo de uma informação preciosa a respeito de
plantas potencialmente tóxicas e perigosas. Na verdade tudo o que
sabemos de cada planta considerada medicinal, tem origem na medicina
popular, indígena, ou através dos conhecimentos trazidos pelas
etnias africanas introduzidas no Brasil como escravos desde o início
do processo de conquista e colonização do Brasil.

Na verdade todas as plantas medicinais estudadas pela Universidade
no Brasil são oriundas da medicina popular. Não existe nenhuma
planta medicinal cujo conhecimento não seja difundido entre a
população.  Portanto quem decide o que estudar em termos de ação
medicinal, são os intelectuais existentes nas comunidades simples do
interior brasileiro, os raizeiros, os mateiros, as parteiras, os
rezadores, os umbandistas, os curadores de cobra, etc.  São eles que
informam aos etnobotânicos e antropólogos da saúde o que vale a pena
estudar no reino vegetal. Se não fosse assim porque a Universidade
iria formar etnobotânicos, etnofarmacologistas, especialistas em
estudar o pensamento médico popular, com o objetivo de encontrar
plantas, com grande potencial terapêutico. E tal fato vem
acontecendo no mundo inteiro. A planta medicinal, Stevia rebaudiana
foi descoberta pelos índios guarani do Paraguai e classificada pelo
cientista suíço Moisés Bertoni. Pois bem, a estévia é um adoçante
300 vezes mais potente do que o açúcar de cana e não produz
diabetes. Não por acaso foi proibido o seu uso nos Estados Unidos!

Assim necessitamos cada vez mais reduzir nossa ignorância aprendendo
com quem sabe: os praticantes da medicina popular, porque ninguém é
totalmente sábio ou totalmente ignorante. O acesso ao saber é um
processo contínuo de busca e por isso para deixar de ser ignorante é
necessário trilhar sempre o caminho da pesquisa e humildemente
reconhecer que, mesmo quando avançamos, sabemos apenas que sabemos
pouco ou quase nada.

Entretanto quando julgamos os que realmente pesquisam e buscam o
conhecimento, totalmente ignorantes e idiotas, estamos reconhecendo
que nada sabemos do que necessita ser conhecido.

Pelo menos o Dr. Dráuzio Varella reconheceu que o atendimento
fitoterápico é profundamente diferente do atendimento alopático. O
médico fitoterapeuta escuta durante muito tempo as queixas e o
histórico do paciente e faz uma anamnese correta e completa. Nenhuma
novidade nisso. Todo médico deve fazer isso. "O doente vai ao médico
e ele nem olha na cara", segundo Dr. Dráuzio Varella. Realmente esta
é a realidade da "medicina de rico" aplicada ao pobre.  O médico de
formação alopata não olha o paciente, porque não necessita
individualizar o paciente, basta receitar um analgésico ou
antibiótico qualquer, para despedir seu paciente. Este é o modelo
que o Dr. Dráuzio Varella defende em sua entrevista. Parabéns pela
inteligência do Dr. Dráuzio Varella!

Enfim, vamos aguardar a reportagem do dia 29/08/2010 na Globo, para
avaliar melhor a proposta do Dr. Dráuzio Varella.

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